quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

TELE-SENSACIONAL!!!!ULTRA-CULTURAL!!!

São Paulo, quinta-feira, 14 de julho de 1994
"Mulher Vestida de Sol" desafia o padrão de realismo da Globo
HÉLIO GUIMARÃES
FREE-LANCE PARA A FOLHA
O teleteatro voltou à Globo e abriu uma brecha no padrão de realismo cultivado pela emissora. O gênero, que praticamente desapareceu da TV, fez sua reestréia com "Uma Mulher Vestida de Sol", exibido na "Terça Nobre" anteontem.
A peça de Ariano Suassuna, com adaptação do próprio autor, apostou na sofisticação e na densidade do texto original.
A história do amor impossível entre Rosa (Teresa Seiblitz) e Francisco (Floriano Peixoto), se passa no sertão nordestino, mas todos os clichês regionalistas foram cuidadosamente abandonados.
Em vez das grandes paisagens do sertão, a adaptação optou por um cenário de elementos mínimos, composto de uma cerca/trincheira que sugeria a interdição do amor de Rosa e Francisco, filhos de dois inimigos mortais.
Outros elementos da paisagem e as indicações temporais do dia e da noite foram sugeridos por uma iluminação excelente. Um retângulo de luz projetado no chão, por exemplo, sugeria o aprisionamento de Rosa (Teresa Seiblitz) em seu destino trágico.
Até mesmo a tradicional tentativa de conferir realismo à ação com o sotaque nordestino-global foi abandonada pelo diretor Luiz Fernando Carvalho.
O trabalho de direção dos atores foi notável. A tensão dramática emanou das falas, e não dos maneirismos de dicção ou atuação. Uma ousadia e um golpe profundo no padrão cristalizado de optar pela caricatura na representação do "regional".
Manifestações folclóricas e populares ocuparam o primeiro plano, mas não eram apenas enfeite. Vocalistas e instrumentistas fizeram as vezes do coro, pontuando a ação dramática com cantigas e ladainhas nordestinas.
A revitalização do gênero teleteatral, no entanto, esbarrou num problema que foge ao controle do programa. Sua densidade teatral ficou prejudicada pelos frequentes intervalos comerciais. A história enxuta, interrompida a cada oito minutos, desconcentra o telespectador. Exibida em duas ou três partes, renderia muito mais.
Estão aí os impasses colocados: se o teleteatro ainda é possível na Globo e se Luiz Fernando Carvalho não é grande demais para a tela da emissora. Tomara que não.

Programa: "Uma Mulher Vestida de Sol", adaptado da obra de Ariano Suassuna
Direção: Luiz Fernando Carvalho
Adaptação: Ariano Suassuna
Elenco: Raul Cortez, Teresa Seiblitz, Floriano Peixoto, Linneu Moreira Dias, Ana Lúcia Torre, Miriam Pires
Trilha: Antônio Madureira
Fotografia: Dib Luft
Emissora: Globo

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