Mata Atlântica
Mata Atlântica | |
Mata Atlântica na Serra do Mar, Paraná. |
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Bioma | Floresta tropical |
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Área | 20 020 532 hectares (200 205 3 km2) área original: 131 029 898 hectares (1 310 299 0 km2) |
Países | ![]() ![]() ![]() |
Rios | Rio Paraná, Rio Paraíba do Sul, Rio Uruguai, Rio São Francisco, Rio Doce, Rio Ribeira do Iguape. |
Ponto mais alto | 2892 metros (Pico da Bandeira) |
Mapa da ecorregião da Mata Atlântica definida pelo WWF. A linha amarelo escuro representa os limites dessa ecorregião. Imagem de satélite da NASA. |
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Património Mundial da UNESCO | ||||
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Vista do Parque Nacional do Monte Pascoal
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País | ![]() |
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Critérios | (ix)(x) | |||
Referência | 892 | |||
Coordenadas | 16° 30′ S 39° 15′ W | |||
Histórico de inscrição | ||||
Inscrição | 1999 (23ª sessão) | |||
* Nome como inscrito na lista do Património Mundial. |
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Património Mundial da UNESCO | ||||
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Vista do Parque Estadual Intervales
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País | ![]() |
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Critérios | (vii)(ix)(x) | |||
Referência | 893 | |||
Coordenadas | 24° 10′ S 48° 0′ W | |||
Histórico de inscrição | ||||
Inscrição | 1999 (23ª sessão) | |||
* Nome como inscrito na lista do Património Mundial. |
É um grande centro de endemismo e suas formações vegetais são extremamente heterogêneas, indo desde campos abertos em regiões montanhosas até florestas chuvosas perenes nas terras baixas do litoral. A fauna abriga diversas espécies endêmicas, e muitas são carismáticas, como o mico-leão-dourado e a onça-pintada. O WWF dividiu a Mata Atlântica em 15 ecorregiões, visando manter ações mais regionalizadas na conservação, já que o grau de desmatamento e as ações conservacionistas são específicas para cada região abrangida pelo bioma.[3]
Atualmente, cerca de 15% da cobertura original existe, a maior parte em pequenos fragmentos, de floresta secundária. No Brasil, restam cerca de 15,3% (a maior parte na Serra do Mar), no Paraguai, cerca de 15% e na Argentina, 45% da vegetação. Na conservação da Mata Atlântica brasileira, a criação de dois corredores ecológicos ligando os principais remanescentes de floresta no sul da Bahia e norte do Espírito Santo (Corredor Central) e os fragmentos na região da Serra do Mar e da Serra dos Órgãos (Corredor da Serra Mar) são de suma importância na conservação da biodiversidade. Os remanescentes do Paraguai e Argentina fazem parte de uma estratégia trinacional de conservação, com a criação de corredores unindo as principais unidades de conservação desses países e outras quatro unidades de conservação do Brasil.[3] Na Argentina, restam cerca de 10 000 km², o que representa o maior trecho contínuo de "Mata Atlântica do Interior". A Lei do Corredor Verde é uma tentativa de resguardar legalmente esses trechos de floresta na Argentina.[4] No Paraguai, o desmatamento se deu principalmente a partir da década de 1990 e as unidades de conservação são poucas e na maior parte particulares.[5] Apesar do alto grau de desmatamento, a região da Mata Atlântica é a que mais possui unidades de conservação na América Latina, apesar de muitas serem pequenas e insuficientes para manutenção de processos ecológicos e biodiversidade.
Índice
Conceito
Histórico
Em 1824, Martius descreve um tipo de vegetação brasileira a que ele chamou "Matto-virgem [Urwäldern] do litoral", ou "Matta Geral".[6][7] O mesmo autor, em 1837, denominou a área fitogeográfica do litoral do Brasil como Regio montano-nemorosa ou Dryas, renomeada em 1858 como Dryades.[8][9][10]Nos anos de 1850, Burmeister a chamaria Südöstliches Urwald- oder Küstengebiet, "região das matas virgens do sudeste ou costeiras".[11][12][13][14]
Dentre os primeiros autores a usar como referência o nome do adjacente oceano Atlântico, estão Wappäus (1884), que usou os termos "zona do litoral", "zona da mata virgem da costa oriental", "zona das florestas virgens do Atlântico" e "matta virgem da costa do Atlântico".[15][16]
Amplitude
A expressão Mata Atlântica pode ser usada em ao menos dois sentidos: Mata Atlântica sensu stricto e Mata Atlântica sensu lato.[16]Alguns autores, como Ferri (1980), Leitão Filho (1987) e Veloso et al. (1992) restringem a aplicação do termo Mata Atlântica (sensu stricto) às áreas de Floresta Ombrófila Densa do litoral.[16][17][18][19] Para Joly et al. (1991), tal Mata Atlântica sensu stricto (ou Floresta Pluvial Atlântica) das regiões sudeste e sul apresenta três formações florestais distintas, segundo critérios fisionômicos, florísticos e de origem: Matas de Planície Litorânea, Matas de Encostas e Matas de Altitude.[20]
Segundo Joly et al. (1991, 1999) e Rizzini (1997) Mata Atlântica (sensu lato) se refere à vegetação que, ocorre ao longo de todo o litoral brasileiro, do Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul, extendendo-se para o interior nas regiões sul e sudeste (nos estados do Rio de Janeiro, Espírito Santo, São Paulo, Paraná e Santa Catarina, e partes de Minas Gerais, Rio Grande do Sul, além de Paraguai e Argentina), sendo característica das Serras do Mar e da Mantiqueira. Apresenta os seguintes tipos de vegetação: Floresta Ombrófila Densa (Mata Atlântica sensu stricto), Floresta Ombrófila Mista (Mata de Araucária) e Floresta Estacional Semidecidual e Decidual (Mata Seca, ou Mata Atlântica do Interior, ou Mata de Planalto), além de ecossistemas associados, que são os campos sulinos e as áreas de influência flúvio-marinha (manguezais e restingas).[16][20][21][22]
História
Formação
A história da Mata Atlântica tem seu início há 50 milhões de anos, quando o continente sul-americano já era uma massa de terra isolada e suas formas de vida passaram a evoluir localmente, sem transtornos geológicos adicionais. Ao longo desse tempo, no período Quaternário, a floresta passou por períodos de fragmentações e expansões, em decorrências das inúmeras eras Glaciais que ocorreram durante esse período.[23] Nos períodos em que o planeta se encontrava com temperaturas mais baixas, os refúgios eram centros em que a biodiversidade florestal evoluía de forma isolada. Essa hipótese pode explicar a enorme diversidade desse bioma, tal como seu alto grau de endemismo.[23] É notável que exatamente o sul da Bahia, norte do Espírito Santo e litoral de Pernambuco são centros de endemismo na Mata Atlântica e os registros de pólen demonstram que tais regiões eram refúgios no final do Pleistoceno.[24] Concomitante a relativa estabilidade no nordeste brasileiro, havia uma instabilidade climática à sudeste, embora isso parece não ter evitado endemismo de alguns táxons de anfíbios amplamente distribuídos.[24][25] Essa instabilidade climática no sudeste e sul do Brasil tinha como consequência o surgimento de outras fitofisionomias que não eram florestadas: estudos paleoclimáticos utilizando pólen demonstram que o sudeste e sul passaram por inúmero momentos em que as florestas eram substituídas por formações abertas, como pradarias.[26] Mais especificamente, a Mata de Araucária, chegou a ocorrer até a latitudes em torno de 19º (muito ao norte do que ocorre atualmente) durante as glaciações, sendo substituída pela floresta estacional semidecidual há cerca de 10.000 anos, quando o clima voltou a ficar mais quente.[27]Povos indígenas
A primeira leva de colonizadores humanos na região da Mata Atlântica ocorreu há aproximadamente 8 a 10 mil anos atrás, como evidenciado por achados arqueológicos em Lagoa Santa, Minas Gerais.[1][2] Esses colonizadores já impactaram o ambiente com atividades agricultoras itinerantes (atividades agrícolas em sistemas agroflorestais, baseado em queimada e derrubada, principalmente do sub-bosque) após sua chegada, principalmente em regiões em que as queimadas para o cultivo eram mais frequentes, ocorrendo savanização.[23] Existe a hipótese de que os pampas surgiram decorrente das intensas queimadas provocadas por povos indígenas, já que vestígios mostram que a região era florestada há cerca de 5 mil anos.[28] É provável que toda a mata da baixada litorânea tivesse sido, pelo menos uma vez, modificada para o cultivo pelos Tupis. É interessante que uma das fitofisionomias mais conhecidas, a Mata de Araucária atual, pode ter surgido decorrente do manejo feito por agricultores itinerantes da Araucaria angustifolia.[23] Também, a agricultura itinerante é praticada até hoje por vários grupos caiçaras e quilombolas do litoral do Rio de Janeiro e São Paulo.[29]Colonização européia
Mata Atlântica em 1500[30] | |
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Estado | Área de domínio |
Alagoas | 53% |
Bahia | 33% |
Ceará | 3% |
Espírito Santo | 100% |
Goiás | 3% |
Mato Grosso do Sul | 18% |
Minas Gerais | 46% |
Paraíba | 12% |
Paraná | 98% |
Pernambuco | 18% |
Piauí | 9% |
Rio de Janeiro | 100% |
Rio Grande do Norte | 6% |
Rio Grande do Sul | 48% |
Santa Catarina | 100% |
São Paulo | 68% |
Sergipe | 54% |

Floresta às margens do rio Paraíba do Sul retratada por Rugendas cerca de 1835.
A partir do século XVIII, há uma aceleração na devastação da floresta no Sudeste, principalmente devido ao ciclo do ouro e a criação de gado, inclusive, com a introdução de pastagens exóticas, o que deve ter destruído pelo menos, 30 mil km² da Mata Atlântica nesse século.[23][31] Em Ouro Preto, por exemplo, a extração do ouro, além do desmatamento, provocou erosão e surgimento de inúmeras voçorocas.[32]
Paradoxalmente, a extração de madeira no fim do século XVIII e início do século XIX para a construção de navios é que despertou um interesse conservacionista das florestas: na capitania de São Paulo, foram criadas reservas no litoral e toda uma legislação visando regulamentar a exploração do que passou a ser chamado de "floresta virgem".[23] Rodrigo de Sousa Coutinho delineou planos de como explorar a floresta de forma mais sustentável, embora isso causou furor nos madeireiros, pois ia de encontro a todos interesses econômicos por trás de uma exploração desenfreada da madeira pelas elites locais.[23] Entretanto, tal "conservacionismo" era para atender os interesses de aumentar o poder bélico da Coroa.[23]

Vale da Serra do Mar retratado por Rugendas cerca de 1835.

Rodrigo de Sousa Coutinho visava uma exploração mais racional da madeira da Mata Atlântica no fim do século XVIII.
O Brasil independente
Com a Independência do Brasil, pouca coisa mudou em relação a um uso mais racional do solo: pelo contrário, as elites locais, agora livres de uma intervenção de uma Coroa distante, se viram numa situação mais favorável à total exploração e aumento das riquezas pessoais. Surgem inúmeras propriedades de dimensões gigantescas, que acabavam refletindo um uso totalmente irracional dos recursos: a terra era visto como recurso descartável, sendo mais vantajoso exaurir uma determinada área para depois ir para áreas de fronteira que estavam sendo desmatadas, do que trabalhar a terra.[23] Esse modelo de produção refletia a mentalidade escravocrata da época: a exploração da terra até a exaustão era tão válida quanto a exploração de seres humanos como escravos. Era também, uma versão ampliada da agricultura itinerante, se baseando na queimada e derrubada e consequente mudança de local com a exaustão dos recursos. E mesmo após 1850, em que houve uma tentativa de se regularizar as propriedades e por conseguinte seu uso, o desmatamento prosseguiu: na realidade, a inabilidade e conivência na administração de terras públicas que a Coroa possuía também eram presentes no Brasil Império, resultando nos mesmos problemas anteriores de propriedade e exploração desenfreada.[23]Foi com ciclo do café que começou haver uma devastação significativa da Mata Atlântica: até então, embora de forma exploratória, os ciclos de cana-de-açúcar e do ouro, e extração de "curiosidades" da floresta, não foram tão destrutivos para a floresta como um todo, visto que acabavam ficando restritos, muitas vezes, a áreas de floresta secundária e campos degradados.[23][33] Entretanto, somada à cultura de uso descartável do solo e desperdício no cultivo em si, o café parecia exigir o plantio em solos de floresta primária, o que acabou expandido o desmatamento para muitas áreas florestadas do Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo e São Paulo.[23] No estado de São Paulo, é notável uma correlação entre o avanço dos cafezais e as derrubadas e queimadas: até 1886 foram derrubados 28.000 km² de florestas em função do plantio do café, a uma taxa de 720 km² por ano.[33] Havia, também, uma mentalidade que refletia não apenas o uso descartável do solo, mas também um desprezo pelo "mundo natural", considerado, inclusive, fonte de muitos males. Apesar disso, alguns estadistas, como José Bonifácio de Andrada e Silva, manifestavam preocupação com a destruição das florestas.[33]
Nesse século é que a tecnologia começa a ser preponderante no avanço do desmatamento sobre as terras "desconhecidas" do interior. A cultura do café e demais produtos agrícolas tinha sua expansão dificultada pela impenetrabilidade do interior. A chegada das ferrovias ao país permitiu a exploração de novas áreas, antes inacessíveis.[23] Começa um acelerado processo que terá seu ápice no século seguinte. Apesar disso, tem início também uma mudança de mentalidade com o descaso no uso da terra e o desperdício dos recursos naturais. Entretanto, tal mudança ainda é muito incipiente, já que o "progresso", com a Proclamação da República, é visto como algo totalmente contrário à manutenção das florestas naturais.[23]
O século XX

Unidades de conservação do Pontal do Paranapanema no extremo oeste do estado de São Paulo. Em amarelo, o Parque Estadual Morro do Diabo, a única unidade de conservação da região que foi consolidada e efetivamente preservada na região.
Também, no Sul da Bahia, em 45 anos, uma cobertura vegetal de quase 215 mil km² foi reduzida a pouco mais de 0,4% em 1990.[35][36] O estado do Paraná conservava cerca de 80% de suas florestas no início do século, e graças à exploração da araucária (principalmente a partir da Primeira Guerra Mundial) e expansão agrícola, até a década de 1960, haviam sido desmatados 119.688 km² a uma taxa de 2400 km² por ano: no estado restam, hoje, apenas o Parque Nacional do Iguaçu no extremo oeste e a cobertura vegetal na Serra do Mar.[37]
As causas para tamanho desmatamento são relacionadas à crescente urbanização e industrialização do país, ao aumento da população em si, (aumentando o consumo dos recursos florestais), tal como os interesses políticos e econômicos na expansão de fronteiras agrícolas e de ferrovias.[23] Trata-se de uma "continuação" do que já ocorrera nos séculos anteriores. O que há de diferente nesse momento, é o surgimento de uma mentalidade propriamente conservacionista, principalmente por parte da comunidade científica, embora, o "brasileiro médio" ignorasse tal mudança e até mesmo visse com o mesmo desprezo de épocas passadas a floresta tropical. Até a década de 1980, habitantes do entorno do Parque Estadual Morro do Diabo, viam-no como uma "imensa área de floresta inútil".[34] Foi no início dos anos 1900, que Alberto Loefgren iniciou campanhas conservacionistas das florestas do estado de São Paulo, com ideias que embasaram o Código Florestal de 1934.[23] Com essa mudança, ainda que pequena, na mentalidade, foram criadas inúmeras unidades de conservação do país, como o Parque Nacional do Iguaçu.

Desmatamento no Paraguai na década de 1990. Em azul, áreas do bioma da Mata Atlântica. Azul claro:remanescente em 1990; Azul escuro:remanescente no ano 2000.
Depois da metade do século, um dos empreendimentos que mais contribuíram para a destruição dos remanescentes de floresta, vinculado ao pensamento de desenvolvimento econômico e a ditadura militar, foram as construções de hidrelétricas, principalmente aquelas na bacia do rio Paraná.[23] Tais empreendimentos, além de aumentar o corte de árvores no entorno, alagar matas e alterar o ecossistema pluvial em si, inundou unidades de conservação já consolidadas, como o Parque Estadual Morro do Diabo (UHE de Rosana) e a Reserva Estadual Lagoa São Paulo (UHE de Porto Primavera) e ecossistemas riquíssimos, como as várzeas, levando, por exemplo, uma espécie de mamífero, o cervo-do-pantanal, à beira da extinção na região da Mata Atlântica.[23][40]
Fragmento de Mata Atlântica em Olinda, na Região Metropolitana do Recife
Após 500 anos de colonização européia, a Mata Atlântica passou por mudanças drásticas que a reduziram a menos de 10% de sua cobertura original: seus remanescentes estão basicamente restritos à província de Misiones, na Argentina, e às escarpas da Serra do Mar.[3][45] A história do desmatamento da Mata Atlântica reflete a história da América Latina, especialmente do Brasil, e essa mesma história dramática pode se repetir novamente, na outra grande floresta sul-americana: a Floresta Amazônica.
Caracterização
As áreas de domínio (área cuja vegetação clímax era esta formação vegetal) abrangia total ou parcialmente dezessete estados no Brasil, abrangendo regiões no sudeste do Paraguai e a província de Misiones, na Argentina.[3]A área original no Brasil era 1.315.460 km², 15% do território; sendo que contando as coberturas vegetais da Argentina e Paraguai, totaliza 1.713.535 km².[3][45] Atualmente o remanescente é 102.012 km², 7,91% da área original.[45]
Biodiversidade

A fauna de vertebrados endêmica é formada principalmente por anfíbios (grande variedade de anuros), mamíferos e aves.
Da flora, 55% das espécies arbóreas e 40% das não-arbóreas são endêmicas. Das bromélias, 70% são endêmicas dessa formação vegetal, palmeiras, 64%. Estima-se que 8 mil espécies vegetais sejam endêmicas da Mata Atlântica.[carece de fontes]
Observa-se também que 39% dos mamíferos dessa floresta são endêmicos, inclusive 15% dos primatas brasileiros, como o mico-leão-dourado. Cento e sessenta espécies de aves e 183 de anfíbios são endêmicas da Mata Atlântica.[carece de fontes]
Hidrografia

Queda-d'água em Curitiba.
- Paraná
- Uruguai
- Atlântica Sul
- São Francisco
- Atlântico Sudeste
- Atlântico Leste
- Atlântico Nordeste Oriental
- Parnaíba
Fauna

Tucano-de-bico-preto é uma ave típica das florestas da Mata Atlântica.

Muriqui-do-norte, uma espécie de primata endêmica da Mata Atlântica.
- Generalistas: pouco exigentes, com altas taxas de reprodução e grande variabilidade de dieta e hábitos alimentares, o que permite que habitem trechos de mata secundária. Ex.: macaco-prego, sabiá-laranjeira.
- Especialistas: dieta e hábitats muito restritos. São sensíveis à perturbações no meio, e por isso tendem a ser encontradas em trechos de floresta primária. Ex.:jacutinga, muriqui.
Visto os fatores citados anteriormente, a fauna da Mata Atlântica é extremamente diversa: no caso dos vertebrados, são 261 espécies mamíferos, 1020 espécies de aves, 197 de répteis, 340 de anfíbios e 350 de peixes que são conhecidos até hoje no bioma.
Ainda existe muito a ser descoberto referente a fauna, tanto que, recentemente, foram catalogadas a rã-de-alcatráses e a rã-cachoeira, os pássaros tapaculo-ferrerinho e bicudinho-do-brejo, os peixes Listrura boticario e o Moenkhausia bonita, e até um novo primata, o mico-leão-de-cara-preta,[51][52] e uma nova espécie de porco-espinho em Pernambuco, o Coendou speratus, descoberto em 2013.[53]
Flora

Subdivisões
Vegetação: fitofisionomias
Fitofisionomias do bioma da Mata Atlântica (sensu lato), definidas pelo CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente) em 1992[57][58][59][60]:- Floresta Ombrófila Densa
- Floresta Ombrófila Aberta
- Floresta Ombrófila Mista
- Floresta Estacional Decidual
- Floresta Estacional Semidecidual
- Mangues
- Restingas
- Campos de altitude
Floresta ombrófila densa

Floresta ombrófila aberta

Floresta ombrófila mista

Floresta estacional semidecidual

Floresta estacional decidual

Manguezais

Manguezal no litoral de Pernambuco.

Restingas

Campos de altitude

Ecorregiões
Visto a enorme diversidade de ambientes da Mata Atlântica e de muitas vezes serem necessárias ações mais regionalizadas, o WWF dividiu o bioma em 15 ecorregiões[3]:Conservação
No Brasil
Remanescentes da Mata Atlântica no Brasil em 2016[30] | ||
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Estado | Remanescente | % remanescente |
Alagoas | 161 365 hectares (1 613 7 km2) | 10,6% |
Bahia | 2 525 715 hectares (25 257 2 km2) | 14% |
Ceará | 190 865 hectares (1 908 7 km2) | 22% |
Espírito Santo | 581 580 hectares (5 815 8 km2) | 12,6% |
Goiás | 33 518 hectares (335 2 km2) | 2,8% |
Mato Grosso do Sul | 968 998 hectares (9 690 0 km2) | 15,2% |
Minas Gerais | 3 205 455 hectares (32 054 6 km2) | 11,6% |
Paraíba | 70 499 hectares (705 0 km2) | 11,8% |
Paraná | 2 526 900 hectares (25 269 0 km2) | 12,9% |
Pernambuco | 212 293 hectares (2 122 9 km2) | 12,6% |
Piauí | 938 738 hectares (9 387 4 km2) | 35,3% |
Rio de Janeiro | 915 741 hectares (9 157 4 km2) | 20,9% |
Rio Grande do Norte | 82 345 hectares (823 5 km2) | 23,5% |
Rio Grande do Sul | 1 883 813 hectares (18 838 1 km2) | 13,6% |
Santa Catarina | 2 831 286 hectares (28 312 9 km2) | 29,6% |
São Paulo | 2 776 513 hectares (27 765 1 km2) | 16,3% |
Sergipe | 114 908 hectares (1 149 1 km2) | 11,3% |

O desmatamento isolou muitos trechos de floresta em ilhas, como é o caso da Reserva Biológica das Perobas.
Atualmente existem cerca de 15,3% de áreas naturais, incluindo formações florestais, mangues e áreas não florestais (savanas), cerca de 20 020 532 hectares (200 205 3 km2).[30][83][84] A maior parte dos remanescentes de mata constituem-se de pequenos fragmentos (cerca de 83% com menos de 50ha), isolados entre si.[83] Existem apenas duas regiões onde os remanescentes são contínuos, somando quase 10.000 km² de floresta cada uma: a Serra do Mar e de Paranapiacaba, nos estados de São Paulo e Paraná, no Brasil; e a província argentina de Misiones que é contínua com Parque Nacional do Iguaçu e o Parque Estadual do Turvo, no Brasil.[84]
Não obstante, o grau de conservação de ecorregiões desse bioma varia, com ecorregiões que possuem até mais de 20 % da cobertura original (como a ecorregião da Serra do Mar) até outras que conservam apenas 3 % da cobertura original (como as Florestas do Interior, encontradas no interior de São Paulo, oeste do Paraná e Minas Gerais).[83][84]
Esse bioma possui 75,6% das espécies ameaçadas e endêmicas do Brasil, o que o torna um dos mais prioritários para conservação no país.[85]
Existem pelo menos 510 espécies em extinção, algumas em âmbito global, outras em âmbito nacional, e outras estão ameaçadas apenas no bioma: inúmeras espécies endêmicas como o pau-brasil e o mico-leão-preto acabam se tornando ameaçadas em todos os níveis desde o regional até o global.[86] Extinções locais certamente ocorrerão nos próximos anos, visto a enorme fragmentação em algumas regiões como observado nas Florestas Costeiras de Pernambuco e na Floresta Atlântica do Alto Paraná: não necessariamente pela conversão dos fragmentos em campos cultivados, mas pelo isolamento deles e por atividades como caça, queimadas e extração de produtos florestais.[82][86]
Na conservação da fauna, o uso de "espécies bandeira" tem sido útil tanto na preservação de algumas espécies em específico, como o caso do mico-leão-dourado e do muriqui, quanto na conservação do bioma e conscientização da população.[87] Esforços para preservar uma determinada espécie "carismática" como a onça-pintada, acaba por culminar na preservação de grandes áreas de floresta.

Imagem de satélite em que se observa o Corredor da Serra do Mar (linha amarela). É o maior trecho de Mata Atlântica no Brasil.
Corredores ecológicos
As estratégias na conservação da biodiversidade e dos processos ecológicos na Mata Atlântica consistem na criação de corredores unindo os principais fragmentos, possibilitando o fluxo gênico e evitando o isolamento das populações da fauna e flora. Na Mata Atlântica brasileira foram identificados duas áreas estratégicas na criação de corredores: o Corredor da Serra do Mar e o Corredor Central (unindo as florestas do sul da Bahia e norte do Espírito Santo).[84][88][89] Na Mata Atlântica argentina e paraguaia a estratégia é trinacional (em conjunto com o Brasil), formando um corredor com unidades de conservação da Argentina, Paraguai e Brasil (interior de São Paulo, Paraná e Mato Grosso do Sul) na ecorregião do Alto Paraná.[3]
Imagem de satélite em que se observa o Corredor Central (linha amarela), compreendendo os remanescentes de floresta do sul da Bahia e do Espírito Santo.
Corredor da Serra do Mar
Trata-se de um ecorregião com os maiores trechos contínuos de Mata Atlântica, além de já possuir uma série de unidades de conservação bem consolidadas, sendo portanto, o corredor mais fácil de ser implementado.[63] É uma região com enorme grau de endemismo, notadamente nos remanescentes de florestas costeiras no Rio de Janeiro.[90] Nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro localizam-se importantes unidades de conservação, que possuem em média 350 km², como o Parque Nacional da Serra da Bocaina e o Parque Nacional da Serra dos Órgãos.[90] A presença de enormes trechos de floresta neste corredor deve-se ao relevo muito acidentado, que dificultou a ocupação e o uso da terra para a agropecuária intensiva, entretanto, as terras baixas litorâneas, principalmente regiões de manguezais e restingas sofrem com a crescente urbanização e industrialização.[90] Não obstante, a caça e pesca predatórias são ameaças diretas à conservação da fauna.Corredor Central
A região do Corredor Central compreende cerca de 86.000 km² incluindo o sul da Bahia e todo o Espírito Santo.[88][89][90] É o maior centro de endemismo na Mata Atlântica, com grande riqueza de espécies de plantas, como registrado em Una e na região central do Espírito Santo.[90] São conhecidas 12 espécies de primatas, representando 60% das espécies endêmicas da Mata Atlântica: o carismático mico-leão-de-cara-dourada é endêmico das matas do sul da Bahia. Trata-se de região com os principais trechos de "mata de tabuleiro" (uma variação da floresta ombrófila densa), caracterizada por uma enorme quantidade de lianas.[89] No sul da Bahia, especificamente, o cultivo do cacau no sistema de cabruca foi menos danoso à preservação da biodiversidade, visto não exigir desmatamento total da floresta.[90] Entretanto, foi uma das regiões que mais sofreu com o desmatamento nos últimos anos, principalmente devido à crise do cacau e à indústria de papel. Visto o alto grau de ameaça aos remanescentes e sua enorme biodiversidade, são exigidas ações de preservação urgentes para o Corredor Central.[88][89] Apesar de grande parte da vegetação nativa já ter sido desmatada, existem 83 unidades de conservação, contemplando cerca de 270.000 hectares, sendo no sul do Bahia onde se encontra um importante mosaico de unidades de conservação, totalizando 500 quilômetros quadrados de florestas: Parque Nacional do Monte Pascoal, Parque Nacional do Descobrimento, Parque Nacional do Pau-Brasil.[89] No Espírito Santo, a Reserva Biológica de Sooretama e a Reserva Natural Vale, em Linhares, somam 440 quilômetros quadrados de florestas.[89] Deve-se salientar que a falta de recursos para implementar os planos de manejo, a insuficiência de pessoal técnico para administrar e proteger as unidades de conservação e impedir a extração ilegal de madeira, caça predatória e queimadas intencionais dificultam a implementação do corredor e preservação dos remanescentes de floresta.[90]Lei da Mata Atlântica
A Lei da Mata Atlântica é uma norma da legislação brasileira que estabeleceu regras sobre a proteção e utilização desse bioma. Ela permite supressão de vegetação em alguns casos. Trata do regime jurídico, dos vários estágios de conservação e evolução dos remanescentes, da abordagem em áreas urbanas e regiões metropolitanas, dos incentivos econômicos e creditícios. O primeiro caso deles é chamado de utilidade pública, que se refere às atividades de segurança nacional e proteção sanitária, obras essenciais de infraestrutura de interesse nacional destinadas aos serviços públicos de transporte, saneamento e energia. Quando necessária ao pequeno produtor rural e populações tradicionais para o exercício de atividades ou usos agrícolas, pecuários ou silviculturais imprescindíveis à sua subsistência e de sua família, até o limite máximo de 2 hectares, ressalvadas as áreas de preservação permanente. Espécies arbóreas pioneiras nativas cuja presença, no fragmento florestal, for superior a 60% em relação às demais espécies. Estabelece ainda o Fundo de Restauração do Bioma Mata Atlântica, ao qual podem ter acesso municípios que tenham elaborado os Planos Municipais de Conservação e Recuperação da Mata Atlântica.[91]
O Parque Nacional da Serra da Bocaina é uma das maiores unidades de conservação da Mata Atlântica no Brasil.
Planos Municipais de Conservação e Recuperação da Mata Atlântica
Os Planos Municipais de Conservação e Recuperação da Mata Atlântica foram criados para facilitar medidas de conservação e recuperação da Mata Atlântica. Devido a grande relevância da Mata Atlântica com a sua importância dentro do cenário da manutenção do ecossistema, e diante de um cenário de degradação e fragmentação cada vez maior deste Bioma, o PMMA é uma ferramenta de trabalho dos órgãos municipais. Dessa forma os municípios atuam como os principais atores para a conservação e recuperação da vegetação nativa e da biodiversidade, com base em um mapeamento dos seus remanescentes, como foi instituído, no Artigo 38 da lei 11.428, - Lei da Mata Atlântica - de dezembro de 2006.[92] A Constituição Brasileira (BRASIL, 1988), estabelece autonomia para os municípios atuarem na proteção dos recursos naturais, trazendo uma nova tendência de descentralização para este tema, possibilitando a cada município, estudar o seu cenário e a sua ocupação dentro da Mata Atlântica, e elaborar seu plano de ação de acordo com a sua realidade e possibilidade real de preservação, conservação e restauração. [93]Unidades de conservação


Dentre todas as categorias de unidades de conservação brasileiras, as Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPN) têm sido as mais importantes para o estabelecimento de novas áreas protegidas, dado que a maior parte dos remanescentes de floresta ainda estão em propriedades particulares.[87] Principalmente na região nordeste, as RPPNs protegem importantes fragmentos com espécies endêmicas e muito ameaçadas de extinção, principalmente de aves.[87] Outra estratégia para criação de novas unidades é a compensação fiscal dada a municípios e estados que possuem áreas protegidas declaradas oficialmente (ICMS Ecológico).[87]
Na Argentina

Arara-azul-pequena é uma espécie provavelmente extinta da Mata Atlântica do Interior na Argentina, Paraguai e sul do Brasil.
No Paraguai

Reserva Biológica Itabó, na parte paraguaia do reservatório de Itaipu.
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