Edição do dia 14/01/2015
14/01/2015 22h23
- Atualizado em
14/01/2015 22h23
Anvisa libera uso do canabidiol para fins medicinais
Diretores da Anvisa decidiram tirar o canabidiol da lista de substâncias proibidas e incluir na lista de substâncias de uso controlado.
Valdir entregou para o presidente da Anvisa um abaixo-assinado com 67 mil assinaturas pedindo a liberação do canabidiol para uso medicinal.
“Eu tenho um filho de nove anos que tem uma epilepsia de difícil controle desde os quatro meses de idade e hoje, desde o uso do canabidiol, a qualidade de vida dele é outra: 100% melhor”, conta o enfermeiro Valdir Francisco Vaz.
A votação foi acompanhada por pais de outras crianças que precisam da substância presente na maconha. A liberação do canabidiol para fins terapêuticos começou a ser discutida pela Anvisa no ano passado, após a primeira ordem da Justiça para que a importação do produto fosse autorizada.
A decisão desta quarta-feira (14) foi por unanimidade. Os quatro diretores da Anvisa decidiram tirar o canabidiol da lista de substâncias proibidas e incluir na lista de substâncias de uso controlado. Na prática, significa a liberação do canabidiol para uso terapêutico.
“Uma classificação que estava inadequada foi corrigida. Isso passa uma sinalização para pesquisa, para a sociedade, para pacientes, para médicos, de que aquela substância, ela não pode ser considerada uma substância tão nociva e sem efeitos terapêuticos quanto antes se imaginava”, explica o presidente da Anvisa Jaime Oliveira.
A venda do canabidiol continua proibida no Brasil. Até agora, apenas um laboratório estrangeiro pediu o registro na Anvisa para importar e comercializar um remédio com a substância. A agência também decidiu que em 40 dias vai apresentar uma resolução para facilitar a importação do canabidiol.
O casal Norberto e Katielle comemorou a decisão. Eles são os pais de Anny, de seis anos, e ganharam na Justiça o direito de importar o canabidiol. A menina tem uma síndrome rara que provoca convulsões de difícil controle. Antes de usar o canabidol ela sofria de 60 a 80 crises por semana. Com a substância, as crises cessaram.
“Não é algo errado. Não é ruim o canabidiol”, diz o pai.
“Esse é um momento lindo, um momento incrível”, afirma a mãe.
A liberação do canabidiol foi bem recebida pelos pesquisadores brasileiros. A repórter Graziela Azevedo explica o que é essa substância e as diferenças entre os efeitos que ela produz e os efeitos da maconha.
O canabidiol é uma das mais de 400 substâncias encontradas na maconha. Também conhecido como CBD já estava liberado em vários países da Europa e em boa parte dos Estados Unidos para tratar além de convulsões, doenças como esclerose múltipla, Parkinson, e combater sintomas da AIDS e do câncer.
O composto isolado da erva da maconha não altera os sentidos e não provoca dependência. Mas a proibição total tornava até a pesquisa científica muito difícil.
O médico Elisaldo Carlini, o primeiro brasileiro a estudar, nos anos 70, o efeito do canabidiol na epilepsia chegou a contrabandear a substância para o laboratório.
"Os primeiros trabalhos científicos publicados no mundo sobre o efeito do canabidiol em epilepsia em adultos, efeito benéfico, foi nosso, foi brasileiro", diz o presidente da Cebrid, Elisaldo Carlini.
A reclassificação de substância proibida para substância controlada deve facilitar a pesquisa e o monitoramento dos pacientes, mas a importação ainda será necessária até que o canabidiol tenha registro no Brasil. O CBD foi a única substância extraída da maconha liberada nesta quarta-feira (14), todas as outras continuam proibidas.
Mas o passo dado foi considerado importante pelos pesquisadores da faculdade de medicina da USP de Ribeirão Preto. Responsáveis pelas pesquisas mais recentes do canabidiol no Brasil. Eles acompanharam as dificuldades enfrentadas pelos primeiros pacientes que usaram o CBD sem prescrição e acompanhamento médico adequado. Isso agora deve mudar.
“Para as pessoas que têm quadros graves e que precisam dessa medicação, vai facilitar muito a prescrição porque o médico vai se sentir mais à vontade por não ser uma droga proibida”, diz o professor de psiquiatria da USP de Ribeirão Preto Antônio Zuardi.
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