Ciência e Tecnologia
Agricultor do Pará inventa apanhador de açaí que substitui peconha
Agricultor
estava insatisfeito com o trabalho arriscado e criou a vara de alumínio
medindo três ou seis metros com um mecanismo na ponta
Foto: Cristino Martins/Agência Pará
BELÉM - Foram necessárias décadas e centenas de acidentes subindo as palmeiras de açaí para apanhar os cachos do fruto, mas apenas alguns meses para que um agricultor inventasse uma ferramenta que dispensa a tradicional peconha. O agricultor estava insatisfeito com o trabalho arriscado e cansativo. Subir na palmeira sujava, arranhava e ainda sujeitava os peconheiros a muitas ferradas de formiga. Edilson da Costa inventou, então, o Apanhador de Açaí.
Uma vara de alumínio medindo três ou seis metros com
um mecanismo na ponta. “De um lado uso uma faquinha, que faz o corte;
depois que deixo o cacho menos preso à palmeira, uso o outro lado, que
tem um engate, e puxo a vassoura para baixo com uma corda que funciona
como elevador. Faço isso em 30 segundos. Já consegui vender dez
mostrando como se faz. Cada um custa R$ 300”, relata o agricultor. Tudo
isso sem precisar subir, sem o galho ferir, sem a formiga atacar e sem
ninguém cair. “Depois da peconha chegamos a usar uma vara com uma foice
na ponta. Muitas famílias usam isso, para cortar e deixar cair. Uma vez o
que caiu foi uma foice na mão da minha mãe. Olha o perigo”, diz Edilson
da Costa.
Foi o próprio Edilson que
produziu todas as peças, soldou, testou e regulou. “Houve erros, fui
aperfeiçoando. Tem peconheiro que diz para mim que é mais rápido sozinho
que usando o apanhador, mas sozinho eles não conseguem descer muitos
cachos, fora que isso cansa muito mais”, argumenta.
Foto: Cristino Martins/Agência Pará
Wolverine
Não bastasse Edilson acelerar o processo da
colheita, ele também queria debulhar mais rápido. Surgiu, então, o
Debulhador. “A gente tirava com o dedo, arrastando os galinhos do cacho
até cair todos, mas isso feria a mão. Alguns eram duros e deixavam a mão
preta. Então pensei que se tivéssemos uma garra, como aquele
super-herói, o Wolverine, seria mais fácil. Pensei em fazer algo
parecido, como um pente para escovar a vassoura do açaí”, conta o
agricultor.
Edilson Costa é um dos
agricultores orientados pela equipe da Empresa de Assistência Técnica e
Extensão Rural do Pará (Emater) no município de Abaetetuba, no Baixo
Tocantins. Segundo o agrônomo Flávio Ikeda, técnico e pesquisador da
Emater, a maior dificuldade de inserir o invento no meio rural familiar é
o tradicionalismo. “As pessoas não querem largar a tradição da peconha,
estão ligadas a isso e querem primeiro ver como funciona a invenção. Eu
estava em uma visita à propriedade dele quando vi o que ele estava
usando e começamos a conversar sobre isso. A invenção é fantástica e
evita muitos problemas. Estamos começando na Emater um processo para
auxiliá-lo a patentear a criação e até inserir no mercado. Ele já deve
fazer umas dez para uma loja de Tomé-Açu”, relata.
O Açaí Açu é um tipo de açaí vindo do Amazonas, que
tem uma palmeira só. A árvore não perfilia e produz cachos muito maiores
que a palmeira comum. Para se ter ideia, são três cachos do tipo Açu
para produzir duas rasas, que podem render doze litros do vinho grosso
de açaí; já do tipo comum são necessários seis cachos para produzir uma
rasa, que rende apenas seis litros. “Como essa palmeira é diferente, com
cacho mais largo e mais duro para debulhar, já estou criando uma
adaptação das ferramentas para podermos atender quem o produz”,
completou o Edilson.
Caroço de açaí serve como lenha
O Pará tem cerca de 50 mil famílias vivendo de
agricultura. Segundo o diretor técnico da Emater, Rosival Possidônio, a
invenção de Edilson da Costa pode trazer melhorias a todas elas. “A
gente orienta e leva as informações para as propriedades e produtores. A
invenção acelera o serviço, o que vai gerar interesse inclusive dos
grandes produtores. Vamos usar os recursos do fomento e viabilizar
fontes de financiamento, e diminuir o custo da produção”, relata.
Assim tem sido com o uso do caroço de açaí batido
como lenha, por exemplo. Tecnologia simples e barata, que a Emater tem
incentivado entre os agricultores a usarem nas casas de farinha. É o
caso de José Brandão Jr., agricultor que há dois anos passou a fazer
farinha. “A gente produzia mandioca demais, uma parte até estragava.
Então resolvemos fazer uma Casa de Farinha. Fui atrás dos fornos
mecanizados e vi as vantagens de usar o caroço do açaí no lugar da
lenha, que é mais barato e não agride o meio ambiente”, revela.
Em um dia fazendo farinha, para aquecer os fornos
seriam necessários dez metros cúbicos de lenha. Com o caroço do açaí são
cinco sacas, cerca de 40 quilos por dia. “Além da vantagem financeira, o
sistema de ventoinha consegue direcionar a intensidade do fogo, o que
diminui o risco de queimar. O caroço pode estar molhado que pega fogo do
mesmo jeito, diferente da lenha. Depois ainda pego as cinzas e uso de
adubo”, completa o agricultor.FONTE: http://portalamazonia.com/noticias-detalhe/ciencia-e-tecnologia/agricultor-do-para-inventa-apanhador-de-acai-que-substitui-peconha/?cHash=edc277370cf65a465d3dec96d6b16527
Nenhum comentário:
Postar um comentário