sábado, 31 de janeiro de 2015

CULTURA REUMATOLÓGICA

Banco de ossos: pouca gente sabe, pouca gente conhece

Ainda não se criou no Brasil a cultura da importância em doar ossos.
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Por Vanessa Navarro

Ainda não se criou no Brasil a cultura da importância em doar ossos.






O transplante de órgãos tem por objetivo principal preservar a vida de pessoas que necessitam de determinados órgãos de um doador comprovadamente com morte encefálica.

Na década de 1950, a Marinha Americana já fazia transplantes de órgãos para soldados mutilados pela guerra. No Brasil, a doação e o transplante de órgãos começaram a tomar força na década de 1990. No decorrer desse tempo, o Ministério da Saúde e o governo elaboraram diversas leis, resoluções e portarias regulamentando a doação e transplante de órgãos. Nos últimos anos, a doação dos chamados órgãos sólidos, como fígado, coração, pulmão, rim e outros vem crescendo uma média de 20% ao ano, e, assim, salvando milhares de vidas.

O Brasil está evoluindo (e muito) na doação de órgãos sólidos. No primeiro semestre de 2011 foram realizados 3.329 transplantes de órgãos sólidos e mais de 7.000 transplantes de córnea. Basta dizer que do total de morte encefálica confirmada, 40% doam seus órgãos.

Isso não quer dizer que todos os órgãos serão aproveitados, pois antes de ser encaminhado para um receptor são realizados rigorosos testes para detectar possíveis doenças. Por outro lado, em relação à doação de ossos, a situação está estagnada e até com decréscimo de doadores. A doação de ossos segue os mesmos princípios da doação de órgãos, ou seja, basta autorização de parentes até de 4º grau. Não é preciso fazer a doação em vida. Via de regra são retirados os ossos longos como fêmur (coxa), tíbia e fíbula (perna) e ainda os ossos dos braços. O doador não fica mutilado, pois os ossos removidos são substituídos por outros materiais e a estética é preservada. É importante esclarecer que desde 2005 é permitida a doação e transplante de ossos. A retirada dos ossos segue os mesmos trâmites da remoção dos demais órgãos após autorização da família.

Ainda não se criou no Brasil a cultura da importância em doar ossos. Parte desse desconhecimento é por falta de maior divulgação e também porque muitos profissionais desconhecem essa possibilidade e sua utilização. Os ossos doados serão utilizados em pacientes que tiveram perda óssea, como tumores, mutilações e nos casos implantes odontológicos e outras situações. Nos casos de implantes em Odontologia, o transplante de ósseo é muito importante, pois evita o chamado implante autógeno (quando o osso é retirado do próprio paciente). Nos casos de implantes autógenos são realizadas duas cirurgias: uma para a retirada do osso e outra para a colocação no local desejado propriamente dito. Portanto, o risco de infecção e o tempo cirúrgico são maiores. Isso sem contar que muitas vezes o osso é retirado da bacia, sendo necessária nesses casos a realização com anestesia geral. É bem verdade que existe no mercado o osso bovino e outras alternativas para reposição óssea, mas, certamente, nenhuma substitui os benefícios do osso humano.

No Brasil, 70% do osso oriundo de doadores são usados em implantes. Os ossos, além de tudo, são isentos de rejeição, pois todas suas proteínas são removidas. Lembramos que todo o processo é rigorosamente controlado do ponto de vista de infecção. No Brasil temos atualmente seis bancos de ossos, todos ligados a instituições de ensino ou a serviços públicos. Esses bancos são supervisionados pela ANVISA e pelo Ministério da Saúde. Quando um paciente recebe o osso de um doador assina um documento obtendo todas as informações necessárias sobre o doador e pode ter acesso a todos os exames realizados.

Para poder requisitar um osso, o solicitante, no caso, o cirurgião-dentista, precisa estar credenciado junto ao Ministério da Saúde por meio do site do órgão, onde existem todas as informações para o credenciamento. O receptor precisa ser informado que não existem riscos de rejeição.

Um único osso pode beneficiar de 50 a 300 pacientes. Não obstante, o osso fica armazenado a 80º negativos por várias semanas. O osso pode ainda ser utilizado em pó ou em blocos, de acordo com a necessidade.

Quem critica a utilização de ossos nos implantes é porque desconhece o assunto. Na Associação Paulista de Cirurgiões-Dentistas (APCD), onde existe há 56 anos a Escola de Aperfeiçoamento Profissional (EAP), são realizados atualmente 10 cursos de implantes e muitas vezes encontramos dificuldade em obter a disponibilidade imediata de osso humano, por falta de doadores. Nesses casos, somos obrigados a buscar alternativas, como o osso bovino.

O osso humano é utilizado no mundo todo com grande sucesso. É preciso que o cirurgião-dentista acompanhe essa evolução e conheça seus benefícios.



Banco de dentes humanos

A criação de Banco de Dentes Humanos tem crescido nos últimos anos. A APCD, por meio da EAP é a única entidade classista que possui um banco de dentes humanos. Até pouco tempo não existia regras para a doação de dentes. O doador era desconhecido e muito menos era conhecido o destino do mesmo. Da mesma forma, a distribuição e o armazenamento dos dentes eram, de certa forma, empírica e cada banco seguia sua própria regra.

Em vista do crescimento desses bancos de dentes, tanto a Anvisa como o MS passaram a estabelecer algumas regras. A Resolução 347/2005 regulamenta o armazenamento e utilização de materiais biológicos humanos. O dente doado, segundo a legislação, deve ter o mesmo tratamento de qualquer órgão. Assim, o doador deve estar ciente para onde o dente está sendo encaminhado e qual será a utilização.

Recentemente, em setembro, foi criada a Associação Brasileira de Banco de Dentes Humanos. O objetivo dessa Associação é colaborar na documentação referente à doação de dentes. O Banco de Dentes humanos tem, entre outras finalidades, impedir ações criminosas, como utilização de dentes de ossadas, além de ceder dentes para pesquisa.






Artur Cerri
Especialista, Mestre e Doutor em Estomatologia pela USP. Diretor da EAP da APCD. Consultor Científico da Revista da APCD. Membro da Pierre Fauchard Academy. Ex-Presidente da Sociedade Paulista de Estomatologia e Câncer Bucal-SOPE. Professor Universitário há 38 anos na área de Estomatologia.

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