Segredo de Estado
A urna eletrônica pode ser violada?
Ainda assim, o sistema não é uma unanimidade. “Os interesses em jogo são múltiplos, pois temos mais de um partido político.
por Milly Lacombe
Teoricamente, qualquer sistema computadorizado é violável – por isso existe a criptografia, técnica de cifrar em código a linguagem de programação. A diversão dos hackers, invasores de sistemas, é justamente decifrar esses códigos – e às vezes eles conseguem. O Brasil é, desde 1996, o único país a adotar o voto eletrônico e as senhas de acesso são conhecidas apenas pelos técnicos do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e pelos engenheiros da Agência Brasileira da Inteligência (Abin) que criaram o sistema. Seria preciso um gênio da computação para não apenas alterar uma ou outra linha de código (o que só faria gerar o caos nas informações gravadas), mas reprogramá-lo para redirecionar os votos a um candidato específico. Ainda assim, o sistema não é uma unanimidade. “Os interesses em jogo são múltiplos, pois temos mais de um partido político. Por isso, a segurança deveria ser norteada pela transparência e não pelo sigilo.Sem acesso aos códigos-fonte, conhecidos apenas pelo TSE, fica impossível saber se houve fraude ou não”, afirma o engenheiro Pedro Rezende, especialista em segurança computacional da Universidade de Brasília (UnB). Ao longo do processo, existem dois pontos vulneráveis. O mais perigoso ocorre quando o programa que tabula os votos é transmitido, via rede, do TSE, na capital federal, para os Tribunais Regionais Eleitorais espalhados pelo país. Nessa fase, a reprogramação de um mínimo de quatro linhas de código seria capaz de fazer com que um em cada X votos fosse desviado do candidato A para o B. “A proteção contra isso é o sistema de alerta Hach, padrão internacional de garantia de integridade e autenticidade de dados. No caso de violação, ele bloqueia automaticamente a urna do resto do sistema”, afirma o engenheiro eletrônico Osvaldo Catsumi Iamamura, do TSE. A segunda possibilidade seria mexer na memória da urna antes da votação.
Depois disso, qualquer violação seria detectada pela comparação com o relatório impresso e exibido em todas as seções eleitorais imediatamente após o encerramento da votação. “Além disso, são feitas, em paralelo, votações à moda antiga em urnas aleatórias e em toda uma cidade de cada estado, para eventual checagem na suspeita de fraude”, diz Paulo César Camarão, secretário de informática do TSE. O maior opositor do sistema na imprensa é o engenheiro Amílcar Brunazo Filho, proprietário de uma empresa de segurança de dados em São Paulo. “O manuseio físico das 400000 urnas será feito por 10000 funcionários contratados pelo TSE, dos quais nada sabemos porque foram selecionados por uma empresa terceirizada, que também não conhecemos. Eles poderiam, teoricamente, abrir a urna e violar sua memória”, afirma Amilcar.
“Essas pessoas, cujos nomes não podem ser revelados por segurança, não são técnicos em informática e não saberiam como adulterar dados criptografados”, diz Paulo César, em resposta. Polêmicas à parte, todos os partidos tiveram a oportunidade, entre agosto e setembro, de vistoriar e testar o sistema. Assim, pelo menos, entraram em campo de comum acordo sobre as regras do jogo.
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