Sáb, 23/04/2016 às 13:13
Maqueiro vira exemplo de solidariedade
Margarida Neide l Ag. A TARDENa última semana, a notoriedade de Farofa - quando ele passa pelos corredores, funcionários e pacientes fazem questão de cumprimentá-lo - ultrapassou os limites do hospital onde trabalha há 13 anos.
Em mais um dia da rotina de trabalho, Farofa - o apelido é por não abrir mão de levar o quitute para a praia - conduzia pacientes em macas para fazer exames ou ser atendidos. Ao entrar em uma sala da enfermaria, a aposentada Erenita Maria de Jesus, 86, chorava e reclamava de dores por conta de escaras nas costas. Ela precisava de um colchão especial para permanecer deitada.
"Ele viu e disse a ela 'vou conseguir agora'", conta a autônoma Fabiane Santos, 27. Além de trazer o colchão, Farofa ainda carregou dona Erenita nos braços, enquanto a troca era feita, e cantou para ela: "Como uma deusa, você me mantém...", verso da canção O amor e o poder, sucesso na voz da cantora Rosana, na década de 80.
O ato foi fotografado pela acompanhante de outra paciente, que postou a imagem no Facebook. Até a tarde de sexta-feira, 22, a postagem tinha mais de 82 mil compartilhamentos. No relato, a usuária afirma que "o maqueiro cantou uma linda canção para ela se acalmar enquanto a nora trocava o colchão".
A atitude comoveu todos que estavam na sala. "Achei muito bonito. É difícil ver um gesto assim. Ele ainda disse que ela era linda, mas ela respondeu 'não sou, não'", lembra a paciente Maria Tereza Amorim, 62.
Atenção humanizada
"Vi que ela estava debilitada e, para mim, pegando ela no braço vi que era uma deusa. Aí, cantei. Sou assim. A gente, ser humano, tem que ser mais alegre com quem está debilitado", ressalta Farofa.
O tratamento humanizado dado pelo maqueiro para dona Erenita não foi o único, segundo médicos, enfermeiros e outros colegas de trabalho. "Ele é assim o tempo inteiro. Sempre de bom humor. Nunca o vi triste. Para o paciente, sentir-se bem tratado ajuda na condição da saúde dele", diz o coordenador médico do hospital, Antônio Andrade.
Entre os muitos casos relacionados à alegria de Farofa, o médico destaca um ocorrido na semana retrasada, no Hospital Carvalho Luz, onde o maqueiro também trabalha. A unidade voltada para pacientes crônicos funciona em Nazaré.
Faltavam apenas duas horas para o término do plantão, mas chegaram cinco pacientes de uma vez. "A média no dia todo é de cinco pacientes. Chegaram todos ao mesmo tempo, e ele ficou alegre. Ainda brincou 'o doutor vai atender cinco pacientes em duas horas'. Com ele, não tem tempo ruim. É uma pessoa para a gente seguir o exemplo", recorda.
Divorciado e pai de dois filhos - um menina de 16 anos e um garoto de 12 -, Farofa já trabalhou como porteiro e motorista de ambulância. Há três anos, está como maqueiro. "Gosto mais de ser maqueiro porque posso ajudar mais", diz. A rotina de trabalho inclui plantão de 12 horas em dias alternados nos dois hospitais.
"Minha folga é à noite. Vou para casa, abraço meus filhos. No dia seguinte, é outro plantão", conta, enquanto para tirar fotos com pacientes e funcionários e atender, por telefone, ex-pacientes que viram a imagem dele na rede social e sites de notícias. "Farofa está estourado", grita uma funcionária.
FONTE: http://atarde.uol.com.br/bahia/salvador/noticias/1764887-maqueiro-vira-exemplo-de-solidariedade
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