1. A mídia e o preconceito.
A grande mídia cria e destroi qualquer coisa.
Com suas ações a mídia cria mitos e celebridades e ajuda a vender os
produtos que anuncia, entre eles o turismo das cidades e regiões que
divulga todos os dias nas suas matérias jornalísticas e de variedades.
Por outro lado, pela simples omissão de informações esclarecedoras ou
pela forma como se refere ao objeto da divulgação, a mesma mídia ajuda a
construir ou a manter preconceito em relação a pessoas, entidades,
raças ou regiões geopolíticas, como é o caso do Norte e do Nordeste do
Brasil.
Há
muito tempo os brasileiros que não conhecem a Amazônia brasileira e a
Região Norte do Brasil, o seu povo e as suas cidades, acreditam que lá
só existem florestas, desmatamento e perigos, para os quais concorrem
animais selvagens, doenças graves, mosquitos, muito calor e povos
primitivos. E esse preconceito estereotipado é reforçado por
professores, que transmitem somente as suas convicções equivocadas e o
que encontram em materiais didáticos incompletos; e também pelo
desinteresse das próprias pessoas da região, posto que, enquanto se
ocupam com outras coisas, não percebem e não dão a menor importância ao
nível de rejeição de que são vítimas.
Continue lendo, porque o assunto é muito interessante…
Mesmo os mais curiosos não sabem como são as cidades da Amazônia,
porque ninguém mostra imagens comuns delas, nem em livros ou revistas, e
muito menos na televisão. E a maioria jamais viu uma foto de Belém que
não seja do Ver-O-Peso; ou de Manaus, que não seja do Teatro Amazonas e
de palafitas nas favelas que margeiam igarapés; ou, insistentemente, dos
já desgastados pontos que eles chamam de “turísticos”.
É comum ouvir-se das pessoas de qualquer lugar do Brasil que “lá é
muito longe”, e que só se consegue chegar “lá” com o uso de avião ou
navio, com muito tempo de viagem. Mas as mesmas pessoas referem-se aos
Estados Unidos e à Europa como se estivessem “logo ali”, esquecendo-se
de que esses lugares estão muito mais distantes que a região amazônica, e
que também só se chega a eles em viagens muito mais longas de avião ou
de navio. Considerando este aspecto os órgãos oficiais e os operadores
de turismo da Região Norte concentram suas ações de propaganda e
marketing no exterior, desprezando o mercado do Brasil carregado de
preconceito, sendo esta mais uma razão para que os brasileiros não
saibam como é a Amazônia.
Também não se pode desprezar o fato de que essa região é a parte do
Brasil que está mais próxima da América do Norte, da Europa e dos outros
continentes. O norte do Estado de Roraima é equidistante de Miami e de
Brasília. Para as pessoas de Manaus é mais fácil e mais barato chegar ao
Mar do Caribe, a 1.500km, por estradas, do que chegar à costa
brasileira em Fortaleza, a mais de 2.300Km, somente de avião ou de
navio.
Quando a televisão mostra qualquer matéria sobre as cidades do Sudeste e
do Sul, mesmo que os temas sejam tragédias ou fatos criminosos, antes
são exibidas imagens que levam a assistência a se lembrar que aquela é
uma bela cidade, entre outras de uma região que detém tudo que há de
melhor no país, conforme se divulga, esquecendo que nelas também existem
inundações, trânsito engarrafado, favelas e falta de segurança, de
ensino, de saneamento e de assistência médica, que assolam o Brasil de
norte a sul. Todavia, se o assunto é sobre a Amazônia, a repórter se
posiciona tendo ao fundo um rio, lixo, palafitas, um matagal, ou a rua
de uma favela, e abaixo surge uma legenda, por exemplo: “Daniela… –
Manaus”, não se sabe com qual intenção, mas fazendo crer que somente
aquilo é a capital do Amazonas, uma cidade com quase 2 milhões de
habitantes, moderna, que detém o sexto maior PIB entre os municípios
brasileiros e a oitava posição entre as cidades mais populosas.
A dengue hemorrágica subiu de 1 para 11 casos na área metropolitana de
Manaus (acréscimo de 1.000%, como se sabe), com 1 morte, mas o
noticiário de televisão em rede nacional, para impressionar de forma
negativa, informa com ênfase que “… o aumento em Manaus foi de 1.000% …”,
sem explicar que o total é de onze pessoas doentes, e fazendo os
distraídos inferirem que o número é muito maior. Não se deve duvidar que
alguém ouve as notícias e pensa: “… se no Rio morrreram 75, no Norte devem ter morrido muitos mais!”.
Lê-se e escuta-se tudo sobre a Amazônia, desde dados técnicos bem
elaborados até comentários tolos e irresponsáveis, como “é preciso
fechar e jogar a chave fora”, e infelizmente o que mais se destaca é
dito por quem jamais foi lá e não sabe nada de lá, principalmente os
brasileiros.
Porém isso só acontece aqui, porque a Amazônia é uma das cinco marcas
mais lembradas pelo mundo afora, e o Brasil é conhecido como o país
penta-campeão de futebol, pelo carnaval e pela… Amazônia, cobiçada por
todos, desconhecida e desdenhada pelos brasileiros das outras regiões –
seus “donos”, como já alegou insistentemente o presidente Luís Inácio
Lula da Silva, esquecendo-se de que ali existem outros brasileiros, 23
milhões de amazônidas, seus verdadeiros donos.
2.Links e imagens reais.
A
descrição da Amazônia só cabe em incontáveis páginas. Por isso, diante
da impossibilidade de detalhar aqui os diversos assuntos, cada um deles
pode ser melhor esclarecido com a leitura em sites e obras de domínio público, que podem ser acessadas através dos hyperlinks
sugeridos ao longo deste trabalho, alguns até com opiniões
conflitantes, mas que ajudam a busca da verdade e incitam as possíveis
discussões.
O Google Earth, software
gratuito, permite que se vejam imagens minuciosas e reais de todas as
regiões do planeta e, neste caso, principalmente as da Amazônia. É
possível a visualização com total nitidez dos menores detalhes de tudo
que existe nas cidades e na “zona rural”, acidentes geográficos, áreas
desmatadas, rios, estradas, etc., e mais uma grande quantidade de fotos
de todos os locais. Tratando-se da Amazônia, além das cidades, é
conveniente que se observem as calhas dos rios e os leitos das estradas,
pois mesmo sem necessidade de muita aproximação consegue-se enxergar os
contrastes bastante evidentes entre a vegetação nativa e a aparência
resultante da ocupação por sítios e fazendas, além das atividades de
desmatamento predatório, obviamente excluindo-se as áreas que não são
originariamente ocupadas pela floresta tropical. As imagens não são
atualizadas com muita freqüência, mas são recentes. O software pode ser
baixado em: www.earth.google.com/intl/pt/.
Todos os dados constantes neste trabalho sobre os tamanhos das populações e dos territórios envolvidos têm como fonte o IBGE: www.ibge.gov.br.
3.O que significa Amazônia.
3.1 AMAZÔNIA – é a região situada na parte norte da América do Sul, com cerca de 6 milhões de km², e que é composta por toda a Região Norte do Brasil e trechos dos territórios de oito países: Venezuela,
Colômbia, Peru, Bolívia, Equador, Suriname, Guiana e Guiana Francesa.
Corresponde à área da maior floresta equatorial e da maior bacia
hidrográfica do mundo, considerada fundamental para a estabilidade e o
futuro dos ecossistemas do planeta terra, influenciando
extraordinariamente as condições climáticas, principalmente do restante
do território brasileiro. A linha de fronteiras do país na região amazônica é de 11.500km, desde a Bolívia até a foz do Rio Oiapoque e ali estão dois dos pontos extremos do Brasil: o norte, na nascente do rio Ailã – monte Caburaí em Roraima, fronteira com a Guiana; e o oeste, nas nascentes do Rio Moa – serra de Contamana ou do Divisor, no Acre, fronteira com o Peru. Neste caso, é importante a observação de que o rio Oiapoque é o extremo norte do país apenas na linha do litoral.
MAPA 1
3.2 AMAZÔNIA LEGAL – corresponde aos estados da Região Norte, mais o estado de Mato Grosso, o oeste do Maranhão e cinco municípios de Goiás. Ocupa 5.088.668,44km² com uma população de 23.596.953 habitantes e, com se vê no mapa, não é totalmente constituída de florestas.
MAPA 2
3.3 REGIÃO NORTE DO BRASIL – compreende os Estados: Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins, com 3.853.327,24km² e 14.623.316 habitantes. Leia mais em: www.ibge.gov.br
3.4 BIOMA AMAZÔNIA – possui área aproximada de 4.196.943km² formada pelas áreas totais dos estados do Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia e Roraima, com 3.575.706,33km², que devem ser somados a 621.236,67km² das áreas norte e oeste de Mato-Grosso, norte do Tocantins e oeste do Maranhão.
MAPA 3
4.O tamanho da Amazônia – Quantos, como são e como vivem os seus verdadeiros donos.
O apresentador do telejornal dá a notícia de que“…a Polícia Federal apreendeu madeira ilegal na Amazônia…”, generalizando,como
se a Amazônia fosse uma coisa igual em todos os pontos do seu
território, isolada e desabitada, em uma área qualquer do norte do país;
e quem ouve a narrativa imagina que estão acabando com todas as árvores
da floresta. De verdade, porém, o fato noticiado ocorreu em algum lugar
quase insignificante desse gigantesco espaço geográfico, que é maior que a metade do Brasil (59,76%) e onde vivem, estudam e trabalham cerca de 23 milhões de pessoas (12,97% dos 183,99 milhões de habitantes do país).
Esse
enorme território concorre para uma grande diversidade geográfica,
biológica e cultural, e também muita distinção entre os seus habitantes,
com origens, costumes e vários sotaques diferentes. O estado do
Amazonas, sozinho, é quase do mesmo tamanho da região Nordeste inteira,
com os seus nove estados, mas no seu território vivem pouco mais de 3,3
milhões de pessoas, que é uma população equivalente à da área metropolitana
de Recife/PE, resultando dessa característica os gigantescos vazios
demográficos que se espalham por toda a região, como extensos desertos
verdes, cortados por mais de 1.000 rios, paranás, lagos, igapós e
igarapés. Desses rios, 10 estão entre os 20 maiores do mundo.
As áreas urbanas da Amazônia legal ocupam apenas 2.643 km² dos seus mais de 5 milhões de km² (somente 0,052%), e 61% da população vivem nas cidades:
Manaus/AM e Belém/PA com mais de 1,4 milhões de habitantes cada uma,
São Luis/MA com 957,5 mil, Cuiabá com 527 mil, Porto Velho/RO, Boa
Vista/RR, Macapá/AP, Rio Branco/AC, Santarém/PA e Palmas/TO entre 180
mil e 400 mil habitantes; e em outras centenas de cidades, vilas e
comunidades situadas predominantemente às margens de rios, obviamente
porque isso sempre facilitou o transporte da região, que utiliza a maior
“malha” hidroviária do mundo.
Ao
contrário do que os não esclarecidos pensam, as cidades amazônicas são
iguais às das outras regiões, e quem mora nelas não vive “na floresta”,
da mesma forma que nas outras cidades do Brasil as pessoas não vivem “na
mata…atlântica”, “no brejo” ou “no cerrado” (veja no Google Earth).
Manaus e Belém já tiveram outros períodos de esplendor durante os dois
ciclos da borracha, entre o final do século XIX e meados do século XX,
quando eram consideradas entre as mais importantes do mundo. Manaus foi a
primeira cidade brasileira a ser urbanizada e a segunda a possuir rede
elétrica e bonde elétrico, enquanto na maior parte das cidades
brasileiras as pessoas ainda andavam em carruagens e carroças, e teve
também a primeira Universidade brasileira, criada em 1909 – fato registrado no Guiness Book (Guiness World Records).
Belém tem 1.408.847 habitantes e sua região metropolina tem 2.078.405 habitantes.
Manaus tem 1.709.010 habitantes.
O
IDH das principais cidades rodeia a média nacional, que é 0800. O IDH
de Belém/PA é 0806 e o de Manas é 0774 – entre 0650, na periferia, e
0940 em bairros e locais considerados nobres. O IDH de Cuiabá é 0821 e o
de São Luis é 0778.
Bairro de Manaus.
Bairro de Belém.
Leia mais sobre estes assuntos em:
Embora sejam capitais de Estados abrangidos pela Amazônia Legal, São Luis, Cuiabá e Palmas não estão na área do Bioma Amazônia.
Com mais da metade da população vivendo nas cidades, os amazônidas deixam livres para os ecossistemas do planeta Terra 99,94% do território amazônico (5,086 milhões de km²), e nesse espaço continental se distribuem apenas 23 milhões
de pessoas, uma das mais rarefeitas ocupações demográficas que existem.
Para que se tenha uma idéia comparativa, no restante do território do
país, 3,461 milhões de km², vivem os outros 174,76 milhões de brasileiros, com média de 50,5 habitantes/km².
Quem povoou a região foram portugueses, espanhóis, ingleses, holandeses
e outros europeus, seguidos por asiáticos – principalmente japoneses – e
africanos, árabes e não árabes do oriente médio, e depois brasileiros
de outras regiões, principalmente os nordestinos desde o final do século
XIX, além dos indígenas que já estavam lá, só Deus sabe a partir de
quando. Certa vez o então governador do Acre, Jorge Viana, disse que nas
comemorações cívicas do estado são hasteadas duas bandeiras: a do Acre e
a do Ceará, estado que mais contribuiu com cidadãos para povoar essa
parte ocidental da região.
O povo amazônico é formado por 28,49% de brancos, 63,97% de pardos, 6,36% de pretos e amarelos e 1,18% de indígenas (cerca de 280 mil índios, distribuídos em diversas etnias), que correspondem a 37,87% dos indígenas do Brasil, mas que são considerados pelo restante dos brasileiros como os únicos seres humanos que habitam a Amazônia.
Então onde podem estar os outros 62,13% dos nossos irmãos indígenas?
Pode ser estranho ou surpreendente, mas estão distribuídos em todas as
outras regiões do país, próximos às pessoas que pensam que eles só
existem na Amazônia. A cidade brasileira que possui a maior população de
índios é São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas, e a segunda é São
Paulo, a maior cidade da América do Sul. Conforme os números divulgados
pelo IBGE, a Bahia possui a segunda maior população indígena, com 64.240
índios, e o estado de São Paulo fica com a terceira, de 63.789 índios,
enquanto que o Amazonas é o primeiro, com 113.391. Os totais da FUNAI
não batem com os do IBGE, porque a fundação só considera os índios sob o
seu amparo.
São
Gabriel da Cachoeira, no extemo noroeste do Amazonas (área de segurança
nacional) – Tem cerca de 40 mil hab., entre eles militares do Exército e
da Força Aérea e 25.000 indígenas.
Certa
vez uma pessoa disse a outra que não sabia a localização da cidade para
onde teria ido uma terceira pessoa, esclarecendo apenas que o lugar
teria nome indígena. A pessoa que ouviu retrucou de imediato: “…como tem nome indígena, só pode ser no Pará!…”,e
isso nos trás de volta à desinformação que vitima os brasileiros,
porque, como todos pensam que na Amazônia tudo é só floresta, índios e
bichos, ninguém sabe que o Pará possui 143 municípios; 37 deles têm
nomes iguais aos de cidades e lugares portugueses, como Belém, Santarém,
Altamira, Bragança, Salvaterra, Soure e Barcarena; 118 têm nomes de
origens diversas, inclusive formados por nomes de santos e de pessoas; e
somente 25 têm nomes de origem indígena ou compostos por vocábulos
indígenas, como Tucurui, Xinguara, Ipixuna do Pará, São Felix do Xingu e
Tucumã, como existem em qualquer outro Estado de todas as regiões
brasileiras.
Leia sobre as populações indígenas em:
Leia quase tudo sobre todos os municípios brasileiros em:
A Região Norte detém as maiores taxas de crescimento populacional do Brasil. Leia também sobre isso em: www.ibge.gov.br.
A
cultura da Amazônia tem uma variedade proporcional ao seu tamanho,
recebendo influência dos colonizadores em algumas regiões mais que nas
outras, mas com uma inegável participação indígena, andina e dos
originários da Ásia e da África, muito evidente no folclore. A
contribuição indígena enriquece e dá uma mágica conotação a essa
cultura, particularmente à música e às outras artes regionais. A música
na Amazônia Ocidental tem também forte influência andina, em estilo,
ritmo e instrumentos.
Assim como acontece em todas as regiões que permitem interação com o
mundo chamado de “globalizado”, as facilidades tecnológicas de
comunicação ensejam constante incremento dessas culturas, principalmente
nos maiores aglomerados urbanos. Manaus possui um dos maiores
“sambódromos” (ou bumbódromos) do país, com capacidade para cerca de 100
mil pessoas, onde acontecem os desfiles de escolas de samba durante os
dias de carnaval, o “boi Manaus” durante as comemorações do aniversário
da cidade em outubro, e shows de grandes artistas. Muitos dos cantores e
grupos musicais internacionais que vêm ao Brasil têm Manaus na sua
agenda de shows.
Encontre muitas informações sobre a cultura amazônica em:
Em
Parintins, no Amazonas, acontece anualmente, nos últimos dias do mês de
junho, um festival folclórico de “boi bumbá” que atrai milhares de
visitantes, principalmente do exterior. Em Belém/PA acontece ao longo do
mês de outubro a maior festa religiosa do país, o Círio de Nazaré, que
chega a reunir mais de dois milhões de pessoas na procissão principal,
no segundo domingo do mês.
Se tudo lá é grande, tudo também é muito longe, e uma significativa
diferença da Região Norte para as outras regiões é que no centro da
Amazônia é quase impossível a construção de estradas de maior alcance; e
no lugar de trens, ônibus, caminhões e automóveis, os meios de
transporte para longas distâncias são somente aeronaves e barcos.
Essa é a BR-319, que nesse trecho tem pela frente o Rio Negro e o Rio Amazonas.
Considerando
que o uso de aviões e helicópteros é mais caro, embora existam lá em
grande quantidade também, o transporte popular entre cidades é feito por
milhares de barcos. Alguns, mais velozes, fazem os percursos em poucas
horas, mas os convencionais “regionais” levam dias para vencer a mesma
distância. Entre os vários tipos há os que oferecem conforto como o de
hotéis de alto nível, enquanto outros disponibilizam apenas lugares para
que as pessoas se acomodem em “redes”.
Há grande freqüência de navios de cruzeiro… Porto de Manaus
e há também muitos milhares de canoas, botes, lanchas, iates…
e barcos “regionais”…
feitos de madeira, com baixo calado para a navegação nos pequenos rios.
Por conseqüência dessas características físicas da região as propriedades e as populações rurais se distribuem nas margens dos grandes rios e lagos,
onde predominam moradias e outras instalações montadas em palafitas,
necessárias para resistir às cheias periódicas. Quando os níveis das
águas alcançam os soalhos das palafitas os seus ocupantes constroem
outros mais altos, e para o gado constroem estruturas de madeira
chamadas “marombas”. Existem ainda os “flutuantes”, que são edificações
construídas sobre grandes toras de madeira, que acompanham a subida e
descida das águas e podem até ser rebocadas para qualquer outro lugar,
ou outro rio.
Propriedade rural.
e bar flutuante, em algum lugar da Amazônia.
Aqui
é necessária uma explicação sobre as viagens de barcos na bacia
amazônica, que por analogia deve ser entendida como um gigantesco
esqueleto de peixe (MAPA 4), cuja linha vertebral
corresponde ao Rio Amazonas, enquanto que as espinhas correspondem aos
rios secundários ou afluentes, cada um deles também com subafluentes
etc.
MAPA 4
Se
alguém estiver na ponta de uma das “espinhas” (ou no alto de um rio
afluente), para chegar à ponta de outra “espinha” é necessário descer
toda a extensão do primeiro rio, navegar pelo rio principal (o maior do
mundo) e subir o segundo rio até chegar ao destino, o que às vezes
demanda semanas.
Numa
ocasião uma pessoa dizia que fora transferida para Rio Branco/AC e a
sua mudança havia seguido por via rodoviária até Porto Velho/RO. Sem
deixar que a pessoa terminasse o que dizia, um ouvinte antecipou-se e
completou: “E a partir daí foi de navio até Rio Branco, não é?”
Não! A mudança havia seguido mesmo por estrada até o destino, pois
Porto Velho está na ponta da “espinha” rio Madeira, e a cidade de Rio
Branco é cortada pelo Rio Acre, um subafluente que está na ponta de
outra “espinha”, chamada Rio Purus.
Por estrada o transporte levaria umas oito horas, no máximo, mas por
via fluvial a mudança chegaria com umas quatro semanas, considerando
também que o Purus é um dos rios mais longos que existem (mais de
2.000km), embora percorra em linha reta uma distância equivalente a
cerca da metade da sua extensão. Isto acontece por ser esse um rio
sujeito à formação de inúmeros meandros no seu curso, e além disso a sua
navegabilidade é bastante dificultada na época de vazante.
Os amazônidas da “zona rural” são adaptados às peculiaridades da sua
região, e o único aspecto ruim do seu modo de viver, aquele que é
prioritariamente mostrado pela mídia tendenciosa, é o isolamento de
localidades e comunidades “ribeirinhas” nas extremidades desses rios,
por conta do vazio demográfico já mencionado, algumas sem energia
elétrica e saneamento adequado, sem transporte rápido para os casos de
emergência, sem assistência médica e sem educação, quase sempre limitada
à alfabetização e ao ensino fundamental, o que concorre para que essas populações isoladas vivam com um IDH muito baixo, perto de 0600. O analfabetismo na região amazônica é de 19%, com cerca de 7% nas principais áreas urbanas.
Palafitas isoladas características.
E esta tem até antena parabólica.
Pelo esforço de diversos setores da sociedade e dos governos, inclusive
das Forças Armadas, existem barcos que se deslocam ao longo dos rios e
de aeronaves que visitam os ribeirinhos e aldeias indígenas para levar
assistência médica e social, material de ensino e até assistência
jurídica e religiosa. Existem lanchas-ambulâncias, navios-hospitais e
barcos-escolas.
Destaca-se a atividade dos “regatões”, barcos-armazéns que sobem os
rios periodicamente vendendo aos ribeirinhos alimentos não perecíveis,
roupas, combustíveis, utensílios e outras coisas, quase sempre cobrando
preços abusivos. Na verdade o que ocorre são trocas desses materiais por
produtos da atividade do habitante local.
5.O relevo, os solos, a vegetação e o clima.
O relevo da região é caracterizado por baixas altitudes, a chamada planície amazônica, onde ocorrem as Matas de Igapó, sempre inundadas, as Matas de Várzea, só inundadas nas cheias dos rios e as Matas de Terra Firme,
nunca inundadas e situadas nos baixos planaltos da Amazônia. Mas lá
também ocorrem planaltos, e na serra de Imeri, no Estado do Amazonas,
nas proximidades da fronteira com a Venezuela, encontram-se os dois
pontos mais altos do relevo brasileiro, o pico da Neblina, com 2.994m e o pico 31 de Março, com 2.992m de altitude (fonte: IBGE).
O Bioma Amazônia não é composto somente de florestas,
desde que lá também existem campos, no litoral do Amapá e na Ilha de
Marajó, e os campos naturais do estado de Roraima, que são chamados de
“lavrados” ou de “savanas das guianas” – Veja no MAPA 5.
Quando as pessoas viram imagens da reserva Raposa Serra do Sol, durante os conflitos entre arrozeiros e índios, chegaram a dizer:“- Vejam o que fizeram com a floresta, desmataram tudo…!”.
O
que viam, porém, eram os campos (lavrados) de Roraima, área situada no
hemisfério norte, com características diferentes do restante da região
Amazônica.
MAPA 5
Mito
ou não, consta que é pobre a maior parte dos solos da floresta
tropical, situada no centro da bacia amazônica (não todos). Se houver
desmatamento, o solo que dá suporte a árvores de 60m de altura se torna
arenoso e estéril, razão pela qual essas áreas são as mais preservadas,
já que não serviriam mesmo para agricultura e pastagens. O estado do
Amazonas possui somente 2% do seu território desmatado para agricultura,
enquanto que o Amapá possui o maior índice de preservação das
florestas, quase intocadas.
Em
contrapartida são muito férteis os solos do sul do Acre, do leste e do
sudoeste de Rondônia, do extremo sul do Amazonas, do norte de
Mato-Grosso e do Tocantins, do sul e do sudoeste do Pará e oeste do
Maranhão (meio-norte), e estes são os principais alvos dos desmatamentos
para criação de pastagens, grandes plantações (de soja e outros) e
extração de madeira. Veja no MAPA 2.
Para ler sobre os climas da região amazônica, as épocas chuvosas e as temperaturas em cada Estado ou sub-região, consulte:
6. A economia da região amazônica.
6.1 Como é:
O
legado da natureza conduz a vocação econômica da Amazônia para o
extrativismo vegetal, inclusive de madeira de lei, látex, castanha,
óleos vegetais, guaraná, açaí, cupuaçu e outros, extrativismo mineral
(acompanhado de petróleo e gás natural), pesca e piscicultura, indústria
de beneficiamento das matérias primas naturais e de alimentos,
agricultura, pecuária, e turismo.
Acompanhando
a história constata-se que os verdadeiros donos da Amazônia sempre
viveram, na zona rural, uma economia quase que somente de subsistência,
tirando da terra pouco mais que o indispensável à sua sobrevivência e
sem contribuir para a devastação da fonte dos muitos e variados
recursos, dispostos em uma área tão grande que todos os seus usuários
originais não seriam capazes de extinguir. Isso é confirmado quando se
analisam as regiões mais afetadas pelo desmatamento através de imagens
feitas de satélites, pois ao longo das estradas (avanço econômico e
tecnológico) se vêem mosaicos correspondentes às propriedades rurais que
praticam substituição da cobertura vegetal – que em muitos casos
atendem só, ou principalmente, aos interesses de pessoas e entidades
estranhas à região – enquanto que as margens dos rios se mostram
preservadas, já que não foram exauridas pelos amazônidas.
Essas evidências primárias já são suficientes para se concluir que a economia da região tem pelo menos duas faces:
·A
primeira corresponde ao uso legítimo da mão-de-obra regional, e até da
que é atraída desde outros locais, para a exploração racional e o
processamento dos seus recursos naturais, assim como a industrialização
de bens em geral. E admite-se essa legitimidade por se saber que as
atividades econômicas de todas as regiões do mundo têm sempre relação
com o que se pode obter entre os seus recursos locais e as suas
potencialidades, as necessidades dos seus habitantes, disponibilidade de
força de trabalho e condições climáticas e geográficas;
·A
outra face é a exploração irresponsável e ilegal da terra e das suas
potencialidades, nos moldes que sempre foram usados no mundo todo e no
restante do Brasil, desde a colonização, por entidades que buscam
somente o lucro momentâneo, sem se importar com o rastro de destruição
que fica à sua passagem. Exemplos disso são a extinção do pau-brasil e a
do jacarandá, a devastação da mata atlântica etc.
A Amazônia Legal
produz 40% da soja e da carne do Brasil, possui cerca de 75 milhões de
cabeças de gado e abriga algumas das maiores propriedades rurais do
mundo. Os maiores rebanhos de búfalos do país estão no Pará e no estado
do Amapá, em perfeita simbiose, pois os bubalinos usam basicamente
pastos naturais úmidos e são convenientemente integrados às
características da região. A maior parte do gado bovino está dentro do Bioma Amazônia,
mas a Confederação Nacional de Agricultura garante que somente 2% da
produção de grãos avançaram sobre o mesmo bioma. O Estado do Pará tem
muita atividade agropecuária, indústria de transformação bastante
diversificada, beneficiamento de madeira e de minérios, inclusive
diversas siderúrgicas, mas tem enormes conflitos ligados à propriedade e
exploração de terras e possui uma das maiores áreas de exploração
irregular das florestas na Amazônia, como se pode ver no MAPA 2
e no Google Earth. O Acre, Roraima, Tocantins e o Amapá possuem
economia extrativista vegetal, animal e mineral, desenvolvem a pecuária e
a agricultura e mantém industrias de produção de alimentos e movelaria.
O Estado de Mato Grosso também possui gigantesca área desflorestada na
Amazônia, e a utiliza economicamente para consolidar-se como o maior
produtor brasileiro de soja, carnes e algodão, enquanto que o Maranhão,
terra das palmeiras, explora comercialmente babaçu, carnaúba, buriti,
juçara e bacaba, mas também possui grandes reservas e produção de
calcário, indústria de transformação de alumínio, alumina, alimentos e
madeira, e grande atividade pecuária.
Leia sobre isto no texto de Planeta Sustentável em:
O Estado de Rondônia, que apresenta o maior índice de áreas ocupadas
sem a cobertura da floresta original em relação ao seu território,
recebeu incentivo do governo federal como principal fronteira agrícola a
partir da década de 1970, e atraiu para lá grande força de trabalho e
de investidores dos estados do sul do país, de Minas Gerais e do
Espírito Santo, ao ponto disso até fazer mudar os sotaques na região
ocupada. Além da agricultura e da extensa pecuária, também possui
extração mineral e desenvolve a industria de beneficiamento de madeiras e
moveleira, de alimentos, de confecções, de construção civil e
metalúrgica.
Como nos outros estados da Amazônia, a economia do Estado do Amazonas
inclui extrativismo vegetal e mineração, agricultura, pecuária de corte e
de leite em pequena escala, piscicultura e pesca, industrialização de
alimentos, turismo (e ecoturismo), mas as suas principais atividades se
concentram na capital, Manaus, que detém os incentivos fiscais da Zona
Franca de Manaus e mantém os pólos, comercial, industrial, agropecuário e
de biotecnologia. A maior parte dos peixes tropicais ornamentais
distribuídos pelo mundo afora saem de Barcelos e de Novo Ayrão,
municípios situados na região do Rio Negro.
As principais áreas de exploração de minérios são: a Serra dos Carajás,
no Pará, de onde se extrai ferro e onde se encontra a maior mina a céu
aberto do mundo, da Vale (do Rio Doce); a Serra do Navio, no Amapá, com
extração de manganês; e Oriximiná, no norte do Pará, de onde se retira
bauxita para a produção de alumínio. A extração de petróleo e gás
natural é feita a partir de Urucu, no município de Coari, no Amazonas, o
processamento é feito na REMAN – Refinaria de Manaus e está em fase
bastante avançada a construção do gasoduto Coari/Manaus.
O potencial mineral da Amazônia é formado também por algumas das
maiores jazidas e reservas mundiais de: ouro, no Pará, no Amazonas, no
Amapá, em Roraima e em Mato Grosso; bauxita, no rio Trombetas/PA; ferro
também no Amapá e no Amazonas (além do Pará); sal gema no Pará e no
Amazonas; manganês no Amazonas, no Pará e no Amapá; cassiterita em
Rondônia e no Amazonas; diamantes em vários locais; e também gipsita,
linhita, calcário, cobre, nióbio, estanho, tântalo, zircônio, caulim,
chumbo e níquel.
6.1.1 A Zona Franca de Manaus:Foi
criada na década de 1950 como uma tentativa de movimentar a economia da
Amazônia Ocidental após a falência do 2º ciclo da borracha, e foi
reformulada e reinstalada em 1967, durante o primeiro governo militar.
A ação se deu sob o argumento de que era necessária a integração das
regiões brasileiras, pois havia até o slogan “Integrar para não
Entregar”, e isso seria complementado com a ocupação das áreas
despovoadas, além de prover condições de sobrevivência econômica e
infra-estrutura que atraíssem mão-de-obra, e, principalmente, capital
nacional e estrangeiro.
Em um perímetro de 10.000km² do município de Manaus estabeleceram-se:
·o Pólo Comercial – que em curto tempo transformou a cidade num enorme shopping center
de produtos importados, visitado por todos os brasileiros em busca de
menores preços e das novidades do primeiro mundo, que naquela época
ainda não estavam disponíveis no restante do país. Ainda existe, mas
declinou após a abertura do país aos mercados estrangeiros e com a
permissividade das compras de importados através de Ciudad del Leste, no Paraguai;
·o Pólo Industrial
– vigoroso, com mais de 500 fábricas “sem chaminés” que incluem as
principais multinacionais da indústria eletroeletrônica, de veículos
utilitários, motocicletas e bicicletas, gráfica, relojoeira, e outras;
·o Pólo Agropecuário – no distrito agropecuário, serve principalmente para experiências cientificas, e
·o Pólo de Bioindústria
– que conta com o CBA – Centro de Biotecnologia da Amazônia e uma rede
de laboratórios para estudo e elaboração de produtos industriais a
partir da biodiversidade. Há anos várias empresas da região distribuem e
exportam seus produtos feitos com genuína matéria prima da floresta.
O modelo da Zona Franca de Manaus, que tem vigência assegurada até o
ano de 2023 pela Constituição Federal (e pode novamente ser prorrogada –
agora até 2033), é intensamente criticado e combatido pela mídia e por
representantes das outras regiões, que freqüentemente conseguem aprovar
no Congresso Nacional ações legais que comprometem a concorrência dos
produtos do Pólo Industrial de Manaus, obrigando a bancada do Amazonas a
uma vigilância constante para evitar grandes prejuízos à economia do
seu estado.
Há algum tempo o ministro de Assuntos Estratégicos, Mangabeira Unger, declarou que as fábricas de Manaus “não deveriam produzir motocicletas e bicicletas”…
televisores, etc., porque esses produtos nada têm a ver com a região, e
ele pode estar certo. Mas não se pode negar que as atividades
industriais em Manaus contribuíram decisivamente para a preservação da
cobertura florestal no Amazonas, visto que multiplicaram postos de
trabalho e atraíram para lá a mão-de-obra disponível nos arredores, que
desistiu de tentar explorar de maneira inadequada a terra onde vivia.
Para contrariar a opinião do ministro, neste momento existem em Manaus
13 fábricas das diversas marcas de motocicletas, e outras 6 preparam o
início da produção. A Moto Honda possui ali a sua segunda maior fábrica
no mundo, atrás somente da que possui no Japão, e planeja a instalação
de outra planta no PIM.
Leia tudo sobre a Zona Franca de Manaus em:
A participação da Amazônia Legal no PIB brasileiro é de 9,27%.
6.2 Como deve ser:
Pela
sua condição de componente vital dos ecossistemas do planeta, não há a
menor dúvida de que a Amazônia pertence à humanidade, como também
pertencem à humanidade a tundra, a taiga e as florestas temperadas do
hemisfério norte, a Antártida, as selvas asiáticas e africanas, os
oceanos e mares, o pantanal, o cerrado, o que resta da mata atlântica, a
floresta de araucárias, as cordilheiras dos Andes e do Himalaia, as
montanhas rochosas, os everglades, os desertos e os mangues. E para a
preservação de todos há necessidade de ações enérgicas dos governos
envolvidos, sem contudo comprometer a soberania de cada país em relação
ao seu território.
Portanto, dadas as limitações impostas pelo contexto ecológico que
envolve a região, e por ser ela também fonte econômico-social para os
seus habitantes e de consumo para todos os brasileiros e o resto do
mundo, há necessidade de profundos estudos e planejamento para encontrar
o modelo ideal de crescimento, ou pelo menos de estabilidade econômica.
A partir dessas iniciativas deve ser previsto o uso racional e
minucioso da terra e do que dela se pode obter, definindo-se maneiras de
repor ou compensar o que for retirado.
Entre essas práticas racionais está a de incentivar nos centros
consumidores a reutilização de produtos e o uso de materiais
recicláveis, renováveis e não poluentes, reduzindo a exploração de
matéria prima. Por exemplo, como meio a ser ampliado para reduzir o uso
de embalagens plásticas, altamente poluentes, espera-se que receba
incentivo a produção de fibras têxteis, como a juta e a malva, que são
plantas amazônicas de ciclo curto, cujo desenvolvimento ocorre nas
várzeas durante a vazante dos rios, e que por isso mesmo pouco
interferem nas condições ambientais.
Como o mundo necessita da madeira que a Amazônia fornece, é
absolutamente óbvio que esse tem que ser um dos seus produtos, mas a
atividade tem que ser praticada de uma forma que inclua reflorestamento,
manejo planejado e cuidados especiais dedicados a cada espécie em
particular. Sobretudo seria ótimo se esse reflorestamento substituísse
as áreas desmatadas para pasto e produtos agrícolas de grande volume,
como a soja e a cana-de-açúcar, embora se deva perseguir a hipótese de
melhoria nas condições de execução dessas mesmas culturas. O Instituto
Nacional de Pesquisa da Amazônia – INPA, a Embrapa e o Museu
Paraense Emílio Goeldi (MPEG) são entidades que participam de pesquisas
e programas científicos com esse objetivo e possuem soluções eficazes
para o reflorestamento de áreas degradadas.
Leia sobre isso em:
A
mesma racionalidade aqui destacada exige também: definição legal de
parâmetros ou limites balizadores das atividades que afetam o meio
ambiente, como o cultivo e o processamento de madeira, a agricultura, a
pecuária e a mineração; e a adoção de métodos eficazes de fiscalização e
punição dos que excederem a esses limites.
A Zona Franca de Manaus é alvo de várias formas de ataques da
concorrência, seja através da mídia, aparentemente a serviço dos
verdadeiros interessados, seja através de interferência política, ou
mesmo do comércio nacional ou internacional, e sofreu recentemente dois
duros golpes que resultam em fechamento de empresas e a conseqüente
redução de postos de trabalho em outras tantas. Um é a opção das
indústrias locais de eletro-eletrônicos por importar componentes da
China, mais baratos pelas razões que todos conhecem, deixando de
comprá-los dos fornecedores tradicionais, do próprio Pólo Industrial de
Manaus ou de outra praça brasileira; e o outro ocorre porque o Senado
aprovou isenção de sete impostos para empresas autorizadas a operar em
Zonas de Processamento de Exportação (ZPEs) espalhadas pelo país, que
poderão também vender 20% da sua produção no mercado interno desde que
sejam pagos todos os tributos incidentes.
A Zona Franca sempre se recupera desses abalos, mas parece ser este o
momento mais oportuno para deslanchar os projetos em andamento do Pólo
de Bioindústria, que utiliza a biodiversidade sem concorrência
da floresta e atua a partir do PROBEM/Amazônia – Programa Brasileiro de
Ecologia Molecular para Uso Sustentável da Biodiversidade da Amaz.
Conforme relato da SUFRAMA, o PROBEM/Amazônia atrai a atenção de várias
indústrias nacionais e estrangeiras que formulam medicamentos, vacinas e
cosméticos utilizando matéria prima natural, e o governo brasileiro
espera desenvolver rapidamente as facilidades para que novas empresas
aproveitem as oportunidades oferecidas. Os produtos do novo pólo serão
alimentos, cosméticos, fármacos, inseticidas biológicos, essências,
aromatizantes, corantes naturais, antioxidantes e fermentos. O Centro de
Biotecnologia da Amazônia é responsável pela implementação da
infra-estrutura científica e tecnológica, e pelo desenvolvimento de toda
a cadeia produtiva e dos meios de proteção da biodiversidade.
A extração de látex nunca deixou de ser feita na Amazônia, embora em
menor escala, mas neste momento ela ressurge em importância e volume de
produção para atender a contratos com grandes empresas, que inclusive se
dedicarão à fabricação de pneus para motocicletas e bicicletas em
Manaus, incentivadas também pela disponibilidade de gás natural extraído
e canalizado desde o campo de Urucu em Coari/AM, que reduzirá
sensivelmente o seu custo de produção.
Por fim, a região possui um grande potencial turístico que deve ser
estimulado, principalmente no turismo ecológico, embora já explore com
sucesso estruturas hoteleiras de alto padrão convencional em cidades
como Belém e Manaus, e também os Lodges (ou hotéis de selva),
que são uma iniciativa pioneira do Estado do Amazonas, os quais têm
entre seus hóspedes inúmeras celebridades internacionais.
Este
hotel de selva, nas proximidades de Manaus, se orgulha de já ter
hospedado pessoas ilustres como Jimmy Carter, Helmut Khol, Roman Herzog,
rei Juan Carlos e rainha Sofia da Espanha, família real da Suécia,
rainha Beatrix da Holanda, principe Frederik da Dinamarca, rei Morammed
VI do Marrocos, Luiz Inácio Lula da Silva, Bill Gates, o conjunto
musical Scorpions e muitos outros.
Hotéis em Manaus.
7. Infra-estrutura.
Na
Amazônia os acessos sempre impuseram dificuldades, e isto é constatado
até nos relatos sobre a época da colonização do Brasil, pois a demora
para o início da sua ocupação tem várias explicações, inclusive a de que
era quase impossível, a partir do Atlântico, navegar contra a corrente
do “Mar Dulce” nos navios a vela e a remo da época. Na verdade a
exploração só teve início a partir das expedições dos espanhóis, que
vinham dos Andes em busca do “país da canela” e do “Eldorado”, e
percorreram a bacia amazônica ao sabor da correnteza do Amaru Mayu
(Serpente Mãe do Mundo), que depois batizaram de Amazonas.
Houve expedições subindo o Rio Amazonas, e a união ibérica concorria
para que espanhóis entrassem nos domínios lusitanos, e vice-versa, mas
os portugueses só chegaram efetivamente à Amazônia no início do século
XVII, através das expedições realizadas por terra para explorar os
sertões, em busca principalmente de ouro e pedras preciosas. E ali, no
território do Grão-Pará, encontraram ingleses e holandeses que, havia
muitos anos, já tiravam proveito de um ativo comércio de madeiras e
pescado, iniciando plantios de cana-de-açúcar, algodão e tabaco, até
serem expulsos em 1639. Ironicamente, desde o descobrimento e a
colonização, os “brasileiros” já desprezavam as coisas amazônicas, que
extraordinariamente sempre atraíam “estrangeiros”.
Voltando à analogia entre a bacia amazônica e um esqueleto de peixes (MAPA 3),
no centro da Amazônia é mais fácil a construção de imensas pontes do
que estradas, e isso já está acontecendo em Manaus, mas nas extremidades
das “espinhas”, onde os rios são menos caudalosos, e entre cada uma
dessas “espinhas” ou grandes rios, existem estradas, como a BR-319 –
Porto Velho/Manaus (em recuperação); a BR-174 – Manaus/Boa Vista, que
leva ao Caribe através da Venezuela; a BR-163 – no trecho
Cuiabá/Santarém; e inúmeras estradas estaduais. Existe extensa malha
rodoviária e até ferrovias no sul e no leste do Pará, no Maranhão e em
Mato-Grosso, no sul do Acre e em Rondônia. O acesso do Brasil a portos
peruanos na costa do Pacífico será possível através da rodovia
interoceânica, que atravessa a fronteira com o Peru em Assis Brasil, no
Estado do Acre, e estará concluída até o ano 2010.
A
Transamazônica foi um sonho ambicioso de ligar os estremos leste e
oeste do país, e poucos brasileiros sabem que ela é a mesma BR-230 que
nasce no porto de Cabedelo, na Paraíba, e que deveria se estender até
Benjamim Constant, no estremo oeste do Amazonas. A rodovia só existe de
verdade, bem pavimentada, no Estado da Paraíba. Ao entrar no Ceará passa
a percorrer os traçados de outras estradas, é pavimentada em vários
trechos do Piauí, do Maranhão e do Tocantins, muito poucos do Pará e a
partir daí, no Pará e no Amazonas, existe apenas em trechos não
pavimentados.
Ponte sobre o Rio Guamá, na “alça viária” entre Belém e Barcarena
Ponte de 4km sobre o Rio Negro, entre Manaus e Iranduba (em construção).
Onde não existem estradas todos os transportes são feitos por via fluvial ou aérea. As
cargas rodoviárias de/para Manaus e Boa Vista são colocadas em
carretas, embarcadas em comboios de balsas fluviais com até quarenta
carretas cada uma, e transportadas entre Manaus/Belém e Manaus/Porto
Velho; e daí para o resto do país por estradas. As cargas marítimas são
transportadas por grandes navios oceânicos que chegam até Manaus, mas
que também podem navegar até Iquitos, no Peru, pelo rio Solimões (rio
Amazonas).
Balsas-tanques, que transportam combustível até os locais mais remotos.
Cargueiros convencionais nos piers flutuantes do porto de Manaus.
Tabatinga/AM,
Santarém/PA e todas as capitais amazônicas têm aeroportos
internacionais e, pela impossibilidade da existência de estradas, a
maioria dos municípios da região possui pelo menos uma pista para
operações de aeronaves.
E onde não há pista são operados hidroaviões.
O
aeroporto de Belém é um dos mais modernos do Brasil e o aeroporto
Eduardo Gomes, em Manaus, é o terceiro em movimentação de carga, atrás
apenas de Viracopos e Guarulhos, e em breve passará por reforma e
ampliação. O aeroporto de Manaus, construído na mesma época que o
Galeão, Confins e Guarulhos, foi inaugurado antes dos outros três e
tornou-se o primeiro do Brasil a possuir fingers (pontes para acesso de
passageiros às aeronaves).
Terminal de passageiros do aeroporto de Belém
E o pátio do aeroporto…
… Eduardo Gomes, em Manaus.
Os
rios amazônicos abrigam hidrelétricas como Samuel, em Rondônia,
Balbina, no Amazonas e Tucuruí, no Pará, que atende também a uma parte
da Região Nordeste, e estão em projeto e licitação outras sete usinas
para exploração do potencial hídrico da região.
UHE TUCURUI/PA – segunda maior hidrelétrica do Brasil.
Das
que estão em fase mais adiantada, duas serão construídas no Rio
Madeira, em Rondônia; e outra, a usina de Belo Monte (no Pará), será a
segunda do Brasil, posição que hoje é ocupada pela usina de Tucuruí. Com
a conclusão do gasoduto Coari/Manaus será viabilizada a utilização de
gás natural para geração e barateamento de energia, que atenderá às
indústrias locais e quase à totalidade da área metropolitana de Manaus.
Agora já se sabe, um pouco melhor,
como é a Amazônia.
Parabéns!…
Sito meraviglioso!
Sou de Manaus, onde morei até os 9 até me mudar com meus pais para Joao Pessoa-PB.
Eu sempre acompanhava meu pai quando saia de carro e ele sempre me mostrava as fabricas do PIM. Como eu era uma criança que só queria saber de brincar, costumava não dar bola para aquelas explicações. Mas foi só quando eu vim morar no nordeste que eu vi que precisava conhecer um pouco sobre a minha região e meu estado. Eu ficava meio besta quando me perguntavam se em Manaus tinha alguma cidade. Eu tinha que juntar forças e explicar que Manaus era a capital do Amazonas…que lá tem as mesmas coisas que aqui tinha… e por ai eu fui vendo que precisava mesmo conhecer mais sobre o meu estado. A cada ano que se passava eu ouvia perguntas mais absurdas. Um dia dentro do ônibus, a caminho do colegio, duas moças embarcaram perguntando se aquele coletivo iria para o terminal de integração. O cobrador respondeu que sim, e elas disseram que uma pessoa não soube informar a elas direito e acabaram pegando o ônibus errado. O cobrador viu que o sotaque era diferente do nordestino, logo perguntou se elas eram do Rio de Janeiro. kkkk… Elas disseram que não. E ele perguntou se elas eram de São Paulo, e elas mais uma vez disseram que nao. – somos de Manaus, disseram elas. Após passarem pelo cobrador foram sentar e um dos rapazes que estavam na parte do ônibus disse para o que estava ao seu lado. – tinha que ser. Bicho do mato!
A partir desse momento eu comecei a pensar de outra forma … e vi que o que falta é a vontade de ir em busca de conhecimento. A partir do momento que vc passa a viver em outro estado e outra região, vc reconhece os erros da sua cidade, estado ou as vezes do seu próprio país… depois começa a enxergar os erros dos outros povos.
Hoje me torno orgulhoso por ter nascido em um estado tao rico por natureza e que a cada dia passa a ser reconhecido internacionalmente.
Desculpa pelos erros de ortografia e falta de acentuação!!!
teclado desconfigurado