Pará: Grude vale ouro na cidade de Vigia
"A Grude De Peixes:Uma das Fontes de Riqueza dos Estados da Amazônia,específicamente no município de Vigia, no Pará!"
Enviada em 15 de fevereiro de 2009 – Imprimir esta matéria – Enviar para um amigo
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Eles têm as casas mais bonitas da cidade, o carro do ano, propriedades espalhadas pelo Estado e o sonho de consumo de muitos vigienses: uma casa ou apartamento na capital paraense, geralmente para que os filhos venham cursar o ensino médio e a universidade. São os ‘reis ‘da’ grude’, empresários que enriqueceram exportando para diferentes países um subproduto do peixe, especialmente da gurijuba, típica da região do salgado. Quase todos moram próximo aos rios do município de Vigia, não nasceram na cidade e em comum têm a mesma forma de ganhar dinheiro e o medo em falar sobre ele.
O grude - ou ‘a’ grude como a população prefere chamar - é a bexiga natatória do peixe (órgão que faz o animal flutuar). Ela é retirada no barco, ainda em alto mar. Depois, é colocada para secar na embarcação, após ser amassada, para que fique em um formato plano. Os pescadores dizem que se o produto não for ‘esticado’, o sol não penetra por todo o grude e ele perde o valor comercial.
Em época de chuvas intensas, os atravessadores compram o chamado ‘grude verde’ (produto fresco) e secam em estufas em um dos vários entrepostos de comércio do produto existentes em Vigia. A cadeia econômica que movimenta mensalmente milhares de reais no município começa com a ‘contratação’ dos barcos que irão fornecer o produto. O atravessador financia a viagem, pagando uma quantia estipulada previamente com o dono do barco. Terceirizar a contratação do barco é a melhor alternativa, pois o mercado se ramifica: enquanto uns trabalham com o filé do peixe, a outra parte fica com o grude, que é até mais valiosa.
Após voltarem das viagens na costa, a tripulação, que conta com em média cinco pescadores, entrege o produto para o atravessador e este negocia com os compradores do exterior. Além dos pescadores, os atravessadores de grude empregam diretamente cerca de 20 pessoas, que cuidam dos depósitos, descarregam a produção e embalam o que será exportado.
O lucro desse mercado não costuma ser revelados e os compradores de grude também não gostam de dar entrevistas. Quem se dispõe a contar o quanto já ganhou com o mercado de grude faz a exigência de não ser identificado. A explicação é simples: ‘ a cidade é pequena e revelar essas coisas chama muita atenção’, conta o segundo maior revendedor de grude da cidade. Nas ruas, quando a população vigiense é questionada sobre as pessoas que mais têm dinheiro na cidade, sempre respondem que ’são aqueles que mexem com peixe’.
O empresário diz ainda que o número de assaltos na cidade aumentou nos últimos três anos, ‘e quem tem família, não pode dar mole de ficar divulgando o dinheiro que tem’. Ele já foi vítima de oito assaltos. Hoje, os carros que saem para levar o produto até Belém, de onde segue de navio para exterior, são escoltados por segurança particular.
Os compradores de Vigia pagam, em média, R$ 80 reais pelo quilo do grude aos donos dos barcos e vendem até pelo triplo ao mercado externo. Como exportam cerca de três toneladas mensalmente, para países como China e Inglaterra, o faturamento pode chegar a mais de R$ 200 mil. Contudo, a crise internacional abalou o mercado do grude, que hoje está quase sem procura, mesmo quando a oferta ainda é alta. Há dois anos, conta o empresário, já foi possível vender o quilo do grude a R$ 250 e mais de dez empresários trabalhavam no ramo, concorrência que encolheu para apenas quatro.
Falta legislação específica para a pesca da gurijuba no Estado do Pará
Ao contrário do que ocorre no estado do Amapá, o Pará não tem legislação específica para a pesca da gurijuba. Não existe aqui um período de defeso, o que compromete a reprodução da espécie, segundo levantamento feito pelo Centro de Pesquisa e Gestão de Recursos Pesqueiros do Litoral Norte (Cepnor) e pela Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra), sob a coordenação da engenheira de pesca Rosália Cotrim Souza.
Os pesquisadores monitoraram durante os anos de 2005 e 2006 a cadeia comercial do grude, acompanhando desde o desembarque do produto no cais da cidade até o Ver-o-Peso. Fizeram contato com o casal de chineses que compra quase toda a produção vigiense e exporta para o país de origem. Além da sopa, os engenheiros souberam que o material é usado na fabricação de cosmésticos como o batom.
Um dos principais problemas encontrados para a proteção da espécie é que não há legislação que proíba a captura na época do defeso e não estipula tamanho mínimo para que o peixe possa ser comercializado. ‘É preciso muita cautela com qualquer proibição naquela área, pois são muitos os pescadores artesanais que vivem disso, ainda mais que a proibição não atingiria só o comércio do peixe, mas do grude, de maior valor econômico’, afirma Rosália Cotrim
A gurijuba tem, ainda, uma peculiaridade: Joga poucos ovócitos para a fecundação e é um peixe de baixa fertilidade. Além disso, protege os filhotes na boca, um risco se capturada antes do tempo. Para Rosália Cotrim, é necessário investimento em uma campanha que estimule a preservação da espécie. A equipe de pesquisadores continua monitorando o comércio, medindo e pesando os peixes.
‘Acredito que não há exploração dentro desse mercado. O pescador que trabalha com grude tem uma margem de lucro muito maior que os demais. Já é rentável para eles, mesmo quando o atravessador ganha o valor quadriplicado’, diz Rosália Cotrim.Fonte: O Liberal